Da violência física como efeito ou descarga de coações passionais diretamente externas ou derivadas internas devido ao ressentimento.
Do apreender as fontes primeiras da violência, engendrada sempre que a vida se separa de suas potências; ou seja, quanto mais impotência, mais violência demanda uma vida e essa mesma vida pratica a violência de modo mascarado ou inconfessável.
Do operar a distinção de natureza entre violência e agressividade; os seres livres são agressivos, mas não violentos; os seres impotentes são violentos porque são impotentes para serem agressivos e/ou criativos.
Do desconstruir os pressupostos dos valores de nossas sociedades e das suas instituições que se propõem a conter e prevenir supostas ameaças, ofensas, violência e/ou violações que na realidade não passariam de efeitos incompreendidos produzidos por forças desconhecidas e, enquanto tais, não tolerados, mas destratados quando qualificados como violentos.
De como a sociedade interpreta forças desconhecidas, brutas ou selvagens, inéditas ou inauditas, intensas e sem intenção como uma dimensão perigosa para si mesma, que deve ser contida nos limites preventivos de seus pré-conceitos e dispositivos de segurança.
De como o homem bom, justo, veraz e pacífico mascara sua violência e covardia inconfessáveis e recorrentes sob os valores da paz, da civilidade, da bondade, da verdade, justiça, utilidade. Ou de como os chamados “direitos do homem” podem violentar as forças mais nobres e sutis da vida.
O efeito imediato da violência sempre incide sobre os tempos e movimentos próprios de cada modo de vida, esmagando-os, reduzindo-os, banalizando-os e tranformando-os em objetos de troca ou de barganhas através de uma lógica que substitui os devires reais e suas profundidades por representações simbólicas que achatam a existência, coisificam os movimentos e generalizam os tempos, submetendo-os a limites abstratos, medianos e mediocrizantes.
Dos dispositivos, elementos e procedimentos que constituem uma necessária institucionalização da violência, a violência inconfessável, pressuposta e praticada nas vísceras das instituições de uma sociedade. De como se formam e investem pensamentos, valores e práticas, e se tornam significantes dominantes, constitutivos de políticas públicas e micro-políticas difusas, poderes e redes de educação, de família; poderes de saúde, médicos, clínicos, hospitalares, poderes e redes de segurança, justiça e seus dispositivos de julgamento, enquadramento, repressão e punição; poderes das forças de produção, circulação e comércio materiais, poderes de fabricação, trocas e consumos de saberes e criação de redes afetivas e imateriais.