O que faz tombar tantas vidas? Como pode, pessoas que criaram obras tão notáveis, como por exemplo Raul Seixas, Van Gogh, Artaud, Kurt Cobain, terminarem mal, não resistindo à invasão de forças que acabam por destruí-las? Por que não se consegue dar conta delas? Quais precauções, quais distâncias seriam necessárias criar, não para negá-las, mas para encontrar o ponto de mutação que transmuta essas forças inimigas em aliadas? Haverá um caminho? Qual será o caminho que leva para essa grande saúde? E se ele não existe, podemos inventá-lo? De modo que produza a força em nós capaz não de se opor, mas de converter forças nocivas em combustível de criação? Eu diria: Nossos inimigos não são os outros, nossos inimigos são nossos fantasmas. Se formos bem atentos, focamos o elemento que captura nosso desejo, elemento que emerge como uma maneira, um maneirismo, um mau jeito de olhar um mau encontro, como uma não-relação, um elemento que nos isola, que se recusa entrar em relação, e que se impõe de fora, produzindo o fantasma da falta em nós, que nos torna juízes de nós e dos outros, eis o pior uso que fazemos desse mesmo fantasma. É contra ele, este terceiro olho em nós que a gente deve lutar, este grande outro que entra e se apropria, se apodera de nós, pesa em nós, que carregamos enfim. Olho que olha através de nós e que nos faz pensar, sentir e agir de modo a nos submeter, sabotar e até aniquilar. O que importa então é conseguir conceber, perceber e detectar esse inimigo que age através de nós mesmos. Eis aí um bom combate inadiável, que é urgente e preemente travar.