A dificuldade de exercer um pensamento pleno ao mesmo tempo que a vida acontece e não pode esperar, nos impõe a questão: como evitar reduzir desejo e pensamento a um estado de corpo coagido pelas forças do presente, lançado no limite da sobrevivência? Os imperativos e as urgências externas do dia-a-dia com frequência não só nos asfixiam como nos atrasam e nos colocam em dívida com a vida, e a vida fica vendo na janela ela mesma se perder, ou melhor, assiste escoar o tempo entre os dedos que não mais comandam o próprio destino. Destaco hoje a necessidade de ultrapassar esse fato que mina nossa potência de agir e pensar. Como podemos pensar criando idéia como acontecimento necessariamente alegre do viver? Como inventar rasgos na tela opaca do presente e fazer passar fluxos de outros tempos e movimentos que estão por vir e que nos arrancam do conformismo?