Um texto – aliás, isso aqui não é um texto, é “a obra” por excelência: Lógica do sentido do Gilles Deleuze. Essa obra foi a que resgatou, a que recuperou o estoicismo da forma mais impressionante e é uma obra absolutamente estoica. Lógica do sentido é exatamente a lógica do incorporal, é o objeto que o estoicismo destaca do ser – como objeto difícil de apreender porque ele é incorpóreo, é um objeto fugidio. E no entanto, como diz Deleuze, é mais ou menos como a Caça ao snark do Lewis Carrol (traduzido como A caça ao turpente, que é o tubarão-serpente, digamos assim) – que você não pega nunca, escapa porque é muito escorregadio, na medida mesma em que não é objeto da sensibilidade e nem da razão. É objeto do pensamento e o pensamento acontece num tempo que não é o do imaginário, que não é o da sensibilidade, que não é o da razão. Essa obra A lógica do sentido é como a Caça ao snark do Lewis Carrol que, aliás, é uma outra obra que Gilles Deleuze cita direto na Lógica do sentido como sendo uma obra que traz como objeto privilegiado o sentido na literatura. Toda a obra de Lewis Carrol é uma obra sobre o sentido e sobre o paradoxo, porque o sentido é paradoxal.