Arquiteto e Urbanista/Fotógrafo
Maio de 2022.
Inicialmente devorando conceitos foucaultianos que fizeram pontes, por acaso, mas não por acaso, ao ler pela primeira vez O Anti-édipo fui apresentado ao tema esquizoanálise, que a princípio é uma bela e poderosa palavra. Somos tomados, quase sempre, pela estética, que de imediato nos captura pela palavra. E isso é o maior engano que o ser humano se dispõe: se apropriar dela, a estética e, portanto, a palavra, como uma camada de fuga, de autoproteção, de envaidecimento e de não enfrentamento ético pela alteridade e a favor daquilo que é essencialmente comunal.
Assim iniciei uma investigação a partir de 2016 para identificar quem estava à frente deste conceito, transmitindo este conhecimento no Brasil. Hoje muito mais “institucionalizada”, talvez até pela repetição da palavra que a inflama como o ego (e que se desgasta com o tempo), pelo opressor momento político que passamos a enfrentar a partir daquele ano, e posteriormente pela crise de saúde pública que permanece até então, cheguei aos vídeos públicos do meu colega também arquiteto, Luiz Fuganti.
Como filósofo que é, percebi nele uma capacidade de compreender fenômenos e situações individuais e sociais que extrapolam a questão da psicanálise, já que o caráter subjetivo vinha me convidando a melhor examiná-lo. Seu conhecimento, apresentado através do seu farto material disponível nas redes sociais, me convenceu a mergulhar neste universo por ele liderado. A partir de uma clínica em grupo, e depois na formação em esquizoanálise por ele dirigida, pude me encharcar de conceitos oriundos da filosofia da diferença, regados e nutridos pelas trocas de experiências pelos colegas das turmas.
Este universo acendeu uma chama de percepção, fundamentada pelas minhas vivências como errante, fotógrafo e urbanista “em quarentena” que deseja, alimentando um outro olhar sobre a forma de se viver, sobre a sociedade e sobre a cidade, isso porque o Fuganti, na medida que expõe o seu conjunto visionário, seu corpo sem órgãos, cresce na tela tal como uma divindade ou um monstro que toca na ferida para realmente sangrar e gangrenar, para então poder escutar, acolher e também se afetar.
Minha leitura do mundo e consequentemente a minha produção científica e a minha arte fotográfica passaram a extrapolar ainda mais o lado oculto, não tangível, subjetivo, a ponto de marcar, nesta trajetória, aquilo que chamo de minha trilogia publicada: Heterophotopia, Arkhitethos e o Pequenino Atlas do Desafino: um ensaio surreal-esquizofotoanalítico.
Não à toa as bases do surrealismo e da esquizoanálise partem do mesmo ponto: o cruel do Artaud.
Bom sempre lembrar que a etiologia da palavra squizo significa fenda, aquilo que rompe, liberta. Ir a este encontro é mais que necessário, como o próprio viver na singularidade, na potência criadora, no livre fluxo do pensamento e no gozo, pelas poéticas e pela criança que deixamos de ser, mas que a guardamos no coração.
Para isso ou mergulhamos de cabeça nesta fenda, ou repetiremos o que as máquinas (institucionais, principalmente) fazem: roubar a nossa subjetividade para atuar a favor deste nefasto sistema comprador de alma.
Por isso que cada vez mais afirmo: a estética é a pele que te descasca!