Haveria um silêncio do pensamento, que não é um mutismo, uma mudez, no sentido de uma impossibilidade, de uma impotência, mas é a condição da criação no próprio pensamento.
Haveria uma experimentação do corpo inédita a partir da valorização do vazio. O vazio não é o nada, jamais. O vazio é uma realidade virtual. O vazio não existe, mas é real.
Haveria uma experimentação da solidão, um uso da solidão, inclusive como preparação e condição de encontros reais.
O que a gente encontra realmente?
A gente não encontra pessoas. A gente não encontra indivíduos.
Quando a gente encontra com uma pessoa, o que você encontra numa pessoa?
A experimentação de si é necessariamente algo que nos acontece na relação com o outro, seja o outro o que for.
E quando esse outro é um vazio? Olha que interessante.
Por que a gente não faz isso o tempo inteiro? Encontrando um gosto pela solidão, pelo vazio e pelo silêncio?
Porque nós estamos capturados por esse falso valor que desqualifica a zona de indeterminação.
Todo o problema existencial, o primeiro e o último problema de toda a grande existência é o da produção de valor.
Não há acontecimento sem a coexistência com o vazio.
Quando entra o criador em nós?
A espera, a espreita, é permitir que o tempo entre em ação. E o tempo é um fabricante, é uma fonte, um gerador de força. O tempo cria coesão, cria consistência. Ele é produtor de força, de eternidade através do ser de passagem de todo o existir, é produtor de potência como a mais alta criação de valor. […]