Curso de Introdução à Esquizoanálise
Por Uma Clínica da Vida, com Luiz Fuganti
Aula extra e apresentação do novo Curso de Formação
[Luiz Fuganti]: Olá, gente! Muito boa noite. Que alegria estar aqui de novo para mais esse encontro. Esse encontro extra depois de termos realizado quatro belos e fortes encontros sobre esquizoanálise, o que é e o que pode a esquizoanálise, uma clínica da vida, e desdobrado as principais linhas, eixos que orientam esse pensamento e essa prática clínica que vem revolucionando os modos de pensar o desejo, o corpo e o próprio pensamento. Que constitui para nós muito mais do que uma teoria, um sistema, um modo de viver, um estilo nômade de vida, um estilo que envolve uma dimensão ético-estética da existência.
Os nossos encontros foram muito fortes e interessantes, eu acompanhei depois os muitos comentários, onde… no Youtube, pelo menos, onde dava para observar o modo como isso afetou a vocês, a todos nós. Foi realmente muito gratificante, muito alegrador, e surpreendente o público atingido. Eu realmente sempre fico cada vez mais surpreso, do ponto de vista positivo, obviamente. É uma alegria saber que esse público cresce cada vez mais e vem nos acompanhando, vem se superando, vem já investindo nessa nova maneira de existir. Então isso, de fato, é uma coisa que nos alegra demais.
E nós… bom, eu observei que tem milhares e milhares de visualizações. Acho que mais de 20 e poucas mil visualizações. É realmente muito alegrador, porque as aulas são aulas longas, complexas e nós vemos a vontade e ao mesmo tempo o modo de as pessoas serem afetadas pelo tempo de exposição e por quanto elas seguem acompanhando essa exposição complexa, rica e que exige um esforço além do nosso modo ordinário de pensar.
Nós temos que nos reinventar para acessar esse pensamento e que, no entanto, ele tem um caminho rigoroso e é totalmente praticável. Isso que… um dos objetivos dos nossos encontros aqui, hoje, é exatamente deixar cada vez mais claro o quão é acessível esse modo de pensar que se torna uma visão em nós e, à medida em que se torna uma visão em nós, também um acontecimento de potência, inseparável do próprio modo de viver.
Então não tem aqui, de modo algum, a dicotomia entre a teoria e a prática. E hoje, bom, hoje nós vamos fazer o seguinte. Eu queria dizer que temos programada a aula de hoje para duas horas, e eu vou dividir a aula em três partes.
A primeira parte vamos usar uns quarenta minutos, um pouquinho menos, já que estamos já há uns oito ou nove minutos de aula aqui. Uns 36, 37 minutos para falar sobre as questões que foram levantadas nos encontros anteriores.
Depois, os próximos 38, 40 minutos, questões que vocês mesmos podem levantar aqui no chat. E se essas questões não forem suficientes, eu volto para as questões que foram elencadas dos quatro primeiros encontros.
E em uma terceira parte, em um terceiro momento, eu vou fazer a apresentação de uma oportunidade, finalmente, desse curso de longa duração, que é não mais o curso de introdução, mas o Curso de Formação em Esquizoanálise. Esse Curso de Formação em Esquizoanálise que tem uma carga horária em torno de 180 horas. Um curso bem aprofundado, muito interessante. Eu vou depois expor com detalhes essa oportunidade, e ao final dessa exposição, serão abertas as inscrições para esse curso de formação, para quem tiver interesse. Tá bom? Para quem tiver interesse em se aprofundar na esquizoanálise e praticar a esquizoanálise, se tornar um clínico esquizoanalista e exercer esse pensamento de modo inteiro nas suas práticas clínicas, aí eu vou dar detalhes de como isso pode acontecer.
Então eu queria dizer antes de tudo que, com o auxílio que eu tive de um editor, meu amigo Gabriel Naldi, nós reunimos as questões em mais ou menos doze páginas. E essas questões estão agrupadas por temas, de modo temático. Então eu vou lê-las, na medida do andamento aqui da nossa exposição, e ir respondendo aos poucos.
Mas eu queria antes dizer o seguinte: de todas essas questões aqui, uma boa parte delas já está respondida nas quatro aulas, ao longo das quatro aulas que eu realizei aqui. Então eu pediria a vocês que formularam as questões num ou noutro momento do curso e que eventualmente ainda não sentiram suficientemente a resposta, que revejam as aulas, porque são aulas profundas, complexas, que têm um rigor e, certamente, muitas vezes a gente deixa passar passagens mais sutis, onde as questões podem se iluminar ou serem respondidas de modo que às vezes, por vezes nos passa despercebido.
Então eu pediria a vocês que, aqueles que eventualmente não se sentirem ainda respondidos em certas questões, inclusive em questões que eu não vou abordar aqui, exatamente porque elas já estão respondidas, que revisitem as aulas que a gente já realizou aqui.
Bom, e por outro lado, existe um conjunto de questões que implica um aprofundamento, um aprofundamento maior, e o tempo não nos permite desdobrá-las aqui. São questões que certamente serão desenvolvidas no Curso de Formação em Esquizoanálise. Então, eventualmente, aqueles que se sentirem ainda não respondidos em certas questões, é possível que essas questões tenham um nível de profundidade que não daria para a gente desdobrar aqui. Mas certamente elas serão respondidas no Curso de Formação em Esquizoanálise, e eventualmente em outras oportunidades de exposição, de eventos abertos que façamos, daí eu posso realmente dar uma atenção especial também para isso.
Então eu vou fazer o máximo para responder essas questões que estão aqui e depois as questões que estão no chat. Eu vejo aqui que tem muita gente aqui já, enfim, dando as boas-vindas, boa noite. Eu não vou então acompanhar o chat, exceto quando tiver questões, tá bom, gente? Mas eu agradeço muito aqui os cumprimentos calorosos, toda essa afetividade. Isso é uma coisa muito boa, muito bonita que surge aqui nos nossos encontros.
Eu vejo que já tem bastante coisa, mas ainda nenhuma questão formulada, exceto, deixa eu ver aqui… é, nenhuma questão formulada.
Aqueles que estão falando sobre certificado, eu vi que tem alguém falando sobre certificado, o certificado já foi emitido, então aqueles que não receberam ou que não conseguiram baixar, escrevam para a Escola Nômade, para o e-mail do programa: [email protected], e você terá lá uma assessoria para baixar, conseguir baixar o seu certificado. Tá bom?
Então vamos lá, gente. Eu vou começar com um conjunto de questões que se referem aos conceitos fundamentais de esquizoanálise.
Deixa eu ligar aqui uma luz especial para eu conseguir ver as questões.
Bom, a primeira… Eu vou, na verdade, ler uma série delas. Vamos lá. A primeira é: “Por que o nome ‘Esquizoanálise’? Como e quando surgiu a esquizoanálise? Foi criada por quem?”.
Essas questões eu já respondi, mas eu vou aqui sinalizar rapidamente. Bom, e ainda tem “Sinto dificuldades em compreender o conceito/definição de esquizoanálise.” “Se ‘análise’ seria freudiana, o que seria esquizoanálise?”.
“Pelo que entendi, a esquizoanálise abarca várias tarefas do ponto de vista analítico e clínico. Mas as maiores tarefas do esquizoanalista seriam negativas, como desterritorializar. É isso?”
“Podemos dizer que a esquizoanálise trata das potências políticas do desejo de existir?”
“Na esquizoanálise, a interpretação não é muito bem-vinda, mas sim a experimentação?”
“Esquizoanálise é método?”
Então eu vou fazer umas considerações gerais sobre esquizoanálise, para termos já uma ideia mais completa e que vai responder aqui uma série de questões que têm a ver com os conceitos fundamentais de esquizoanálise.
A esquizoanálise, sem dúvida, surgiu em 1972, com Deleuze e Guattari, em uma obra escrita a quatro mãos, chamada O Anti-Édipo, cujo título mais geral era Capitalismo e Esquizofrenia. Essa obra Capitalismo e Esquizofrenia teve um segundo volume, publicado em 1980, oito anos depois, com o título Mil Platôs. Surgiu na França, portanto, do encontro com um filósofo, Gilles Deleuze, e um clínico, psiquiatra, Félix Guattari, que já trabalhava em sua clínica La Borde, onde tinha já um processo de experimentação em curso muito interessante, muito profundo, com muitos questionamentos e muitas críticas.
Então surgiu como uma reação, antes de tudo como uma reação ao grande contágio que vinha tendo, um contágio nocivo da psicanálise, ou das psicanálises mais ortodoxas sobre os modos de viver da sociedade, e essas psicanálises, e mesmo outras práticas psicoterapêuticas, da psicologia, da psiquiatria, que funcionavam muito mais — e isso ainda ocorre, vem ocorrendo ainda, não digo cada vez mais, mas isso segue — como um braço do Estado. Ou seja, pensamentos, teorias e práticas clínicas que estavam ali para consertar o nosso desejo desarranjado, para nos integrar novamente a um campo social, para que nós nos tornássemos e nos tornemos cada vez mais funções dessa megamáquina social.
Então é uma reação a isso, exatamente para libertar o desejo dos seus enquadramentos. É um movimento de pensamento revolucionário que pretende liberar o desejo e os nossos modos de viver. Um pensamento muito profundo que ultrapassa a dicotomia entre indivíduo e sociedade, arranca a clínica daquele mofo dos porões do familialismo e do individualismo ou da subjetivação, e traz, insere um ar de política, de movimento, de combate das multiplicidades que atravessam o campo social.
Então a esquizoanálise arranca a clínica do consultório. Não que faça com que o consultório desapareça, não é isso, mas ela vai ligar o desejo imediatamente ao seu campo social e político. Social, político e econômico, porque há sempre desejo na produção material, assim como há produção material no desejo. Então a esquizoanálise vai fazer isso e, além disso, perceber, inventar um método, sim, ela é um método. Além de ser uma visão, além de ser um pensamento, ela é uma visão, e uma visão, portanto, que faz com que haja um acontecimento de potência, e interfira imediatamente no modo de vida das pessoas.
A esquizoanálise implica um modo de vida, mais do que tudo. E esse modo de vida traz também um método, um método para reencontrar o desejo no seu plano de imanência, no seu campo de imanência. Um desejo que, uma vez encontrado nesse campo de imanência, é apreendido como pleno, sem falta. Ou, ainda melhor, é apreendida a maneira como a falta é inoculada no desejo quando você encontra esse desejo no seu plano de imanência, mesmo que esteja aí separado do que ele pode.
Então a esquizoanálise é um método para chegar o mais rápido possível ao desejo intensivo que vai fazer a distinção em relação ao desejo intencional. O desejo intencional já é um produto histórico, social, político, que é produzido a partir do momento em que o desejo é esburacado ou é inoculada no seu coração a falta. Por isso que o desejo intencional surge. Assim como a boa intenção ou o bom-senso e o senso comum, que são os dois pilares do julgamento que estruturam o sujeito.
Então a esquizoanálise vai desconstruir essas capturas que separam o desejo das suas potências e reestabelecer o seu campo de imanência. A esquizoanálise não é uma análise da psiquê, como são as psicologias, geralmente, e a psicanálise. A psicanálise é uma análise da psiquê, mesmo que a psicanálise aí supostamente inove um pouco mais e inclua na psiquê as forças do inconsciente. E claro que quando a psicanálise faz isso, ela inclui um inconsciente que na verdade é produto de um recalcamento. Um inconsciente recalcado, seja do ponto de vista do recalcamento primário, do recalcamento secundário, é essa a matéria que a análise psicanalítica ou que a psicanálise vai operar.
Então a esquizoanálise ultrapassa isso, ela não é uma análise da psiquê, e ao mesmo tempo ela não é uma síntese corporal, simplesmente, que investiria em uma somoterapia, sairia da psicoterapia para investir na somoterapia. A esquizoanálise vai mais embaixo, mais profundamente atingir o desejo, que por sua vez se exprime tanto na mente quanto no corpo, quanto no campo afetivo e nos modos de existir. Então é uma análise do desejo. Do desejo quando ele perde o seu campo de imanência. É necessário fazer uma análise, uma cartografia e não um diagnóstico. Este é outro diferencial da esquizoanálise. A esquizoanálise não diagnostica a partir de quadros ou pressupostos pré-estabelecidos como estruturas do desejo. A esquizoanálise entende o desejo como um processo.
Existe uma questão aqui, entre as outras questões que eu observei, que pedem para ver, para responder como a esquizoanálise interpreta as psicoses. Eu posso dar uma resposta rápida aqui. A psicanálise não interpreta a psicose ou as psicoses a partir da pessoa ou de uma personologia. A psicanálise não acredita em pessoas ou em uma personologia como fundamento do sujeito. E muito menos a esquizoanálise investiria — se não investe na pessoa, investiria em uma estrutura. Então, a interpretação esquizoanalítica das psicoses não é nem personológica, nem estruturalista. A interpretação esquizoanalítica das psicoses é aquela que conduz aos processos do desejo.
Não existe alguém que esteja fixado, enjaulado em um modo psicótico de existir. Existe sempre alguém que é atravessado por linhas, por tendências, por devires. Essas linhas, tendências ou devires constituem os processos do desejo, os fluxos do desejo. Nós somos atravessados por processos e fluxos desejantes, e esses processos e fluxos estão sempre em devir ou em mutação. Então não existe uma realidade sedentária, dada de uma vez por todas, à qual se buscaria uma cura e uma estruturação, um estado suficientemente normal para que a pessoa saísse daquela condição de impotência. Existe, sim, uma mobilização dos estados de coagulação, exatamente para que os fluxos se liberem, se desterritorializem, sejam arrebatados por sua linha de fuga, esposem a sua linha de fuga. Exatamente para que entrem novamente em devir.
A esquizoanálise é uma máquina de colocar o desejo novamente em devir, mas não qualquer devir, um devir ativo. Isso é fundamental. Então, por isso mesmo eu acredito já ter respondido aqui a uma série de questões que eu li.
“Por que o nome ‘Esquizoanálise?’’. Bom, esquizoanálise claro que tem a ver com uma questão da esquizofrenia como limite da própria formação, das formações sociais que a gente vive. A esquizofrenia é o limite do capitalismo. Eles identificam aqui a esquizofrenia como limite do capitalismo e do próprio desejo, mas o termo “esquizo”, que muitas vezes foi ligado a uma cisão, a uma fenda, a uma divisão, ele é muito mais um elemento do próprio desejo. O desejo, a natureza do desejo é esquizo, uma vez que a natureza do desejo é necessariamente diferencial. O desejo é uma força de diferenciar da própria potência ou das potencialidades que se manifestam em nós. E essa força de diferenciar também é desviante, ela se desvia de toda realidade pronta. Ela não tem nem bom senso, nem senso comum. Ela é desviante porque a natureza do desejo implica por direito uma criação ou uma diferenciação do real. O desejo produz realidade, ele não é produtor de fantasmas ou meramente representativo. O desejo essencialmente é essa força de inventar o novo. Então ele necessariamente é diferencial, e por efeito ele é desviante de tudo o que está pronto.
Então o elemento “esquizo” tem a ver com isso. Eu gosto de associá-lo com o clinâmen de Epicuro e de Lucrécio. É uma afirmação da diferenciação. Ele é desviante por efeito. Desviante de tudo o que está pronto ou do ideal. Ele, portanto, produz diferença, por isso esquizo. E esquizoanálise, a análise exatamente desse elemento esquizo do desejo para reencontrar o desejo no seu campo de imanência.
As tarefas da esquizoanálise, eu já respondi isso ao longo dos nossos encontros, eu distingui duas tarefas críticas e duas tarefas criativas. Esse é o modo como eu retomo tudo o que atravessa essas duas obras, o Anti-Édipo e o Mil Platôs, a maneira como eu retomo distinguindo quatro grandes zonas de passagem que podem ser designadas também como limiares do desejo. Zonas de passagem ou limiares do desejo.
Primeiro, o que eu denomino como primeira captura é a primeira tarefa crítica da esquizoanálise. É uma desconstrução necessária do uso que fazemos daquilo que nos acontece. Então essa desconstrução desemboca também em uma segunda crítica, porque geralmente a tendência que fazemos, à medida em que o desejo está decaído, que ele cai pela primeira vez pelo mau uso que ele faz daquilo que acontece a ele, à medida em que, por exemplo, o desejo se cola ao acontecido ou à experiência vivida, ele se empilha nesses estados afetivos, corporais e mentais, e se confunde com aquilo que aconteceu a ele, se reduz a isso, nessa mesma medida ele tem a tendência a desejar uma saída e uma busca por uma salvação que na verdade nós denominamos aqui, na segunda captura, o empoderamento.
Seria o segundo limiar por onde o desejo passa, depois dele ter caído, sofrido a primeira queda. E aí é uma tentativa dele se salvar ou se safar, e ele começa a investir nessa zona de empoderamento, nesse campo de idealização que pode coincidir com uma religião, com o Estado, com o capital, com todas essas dimensões que constituem um plano transcendente de organização do desejo, do corpo e do pensamento. Esse plano transcendente de organização implica, portanto, uma verdade, uma realidade ideal pela qual o desejo é julgado, é comparado e eventualmente ele ganha direito a uma posse, a uma apropriação, ou ele é expropriado desse campo que o rejeita. Ou ele é reconhecido, ou ele é rejeitado. E nós nos tornamos cúmplices à medida em que fazemos de tudo para sermos aceitos por esse campo, por esse espelho, por essa máquina social de empoderamento.
Então essas são as duas tarefas críticas da esquizoanálise. As duas tarefas criativas passam pelo terceiro e pelo quarto portal ou portais. O terceiro limiar do desejo que, na verdade, já estava aí desde o início. Quando reencontramos ou encontramos esse terceiro portal ou esse terceiro limiar, essa terceira zona de passagem, nós percebemos o quê, exatamente? Que todos esses limiares ou portais coexistem. Eles coexistem com o nosso modo de existir ou de viver. E nessa medida, então, começamos a reencontrar as nossas forças, disponibilizar as nossas forças, a inventar um jeito de acessar aquilo que já estava disponível para nós. Nós estávamos separados desse acesso por um entupimento dos nossos canais, dos nossos poros, dos nossos modos de existir. Nós estávamos separados pelos efeitos que o nosso modo de viver produz sobre nós mesmos, que nos empilham e nos separam da nossa relação imediata com o real. Nós estávamos separados pelo nosso próprio modo de existir, que produz mediações e coloca as mediações no lugar do nosso comando imediato da própria vida.
Então, a superfície é a retomada do imediato, essa zona de indeterminação que indetermina a realidade pronta, que nos coloca em relação novamente com uma multiplicidade, seja caótica, seja uma multiplicidade potencial que está dentro de nós e também fora de nós. É o momento em que começa a emergir a multiplicidade como um substantivo, a multiplicidade do dentro e a multiplicidade do fora, e articula o grande encontro entre a multiplicidade do dentro e a multiplicidade do fora e que descontrói tanto a interioridade que captura o dentro quanto a exterioridade que captura o fora.
Então, nessa medida, a terceira zona de passagem constitui já uma conquista da condição criativa, porque é aí onde o encontro se torna novamente possível. O encontro, aqui, deixa de ser um contrato, deixa de ser uma submissão ao universal, uma submissão à lei, deixa de ser uma relação com o dever-ser, deixa de ser uma relação com a lei, com a norma e mesmo com o desejo separado do que pode, que buscaria o empoderamento.
Aqui o desejo aparece a partir de uma potência que se manifesta na superfície das relações ou dos encontros, na superfície imediata, sem mediação. E essa superfície se torna a zona comum daquilo que vai singularizar cada desejo que aí entra em relação. Então, nessa medida, o que ocorre? Nós conquistamos daí a segunda, acessamos a segunda tarefa criativa da esquizoanálise, que no meu entender é essa de fazer a diferenciação do desejo. A diferenciação, aliás, da potência através do modo intensivo de desejar. E é nesse momento que nos tornamos criadores não só das condições de existência, mas da própria realidade, de mundos próprios e, sobretudo, de nós mesmos. E aí nós percebemos claramente que ao desejo nada falta e que o desejo produz a própria realidade que o preenche.
Então eu entendo que através dessa exposição que eu acabo de fazer, eu respondi a uma série de questões que estavam aqui, que no meu entender eu já tinha respondido nos encontros, mas agora eu acabo de fazer aí uma pequena síntese. Tá bom?
E aí segue, bom…
“Na esquizoanálise, a interpretação não é muito bem-vinda, mas sim a experimentação?”
Sim, a interpretação, na esquizoanálise, ela é denunciada, criticada, por quê? Porque geralmente os psicanalistas, psicólogos e psiquiatras, mas sobretudo a psicanálise está presa a um regime de signos que não é um modo afirmativo do pensamento. É, na verdade, um modo de capturar o pensamento e assujeitar o desejo, que é o regime significante de signos. Tudo significa alguma coisa, então algo é um significante que remete a outro significante, que produz outro significado, então é uma cadeia de signos significantes, geradora de significados e sentidos a partir do quê? De um signo que remete a outro signo, de uma afecção que remete a outra afecção, de uma imagem que remete a outra imagem, nunca de um signo, de uma afecção ou de uma imagem que é efeito efetuador de uma potência em ato.
Então é essa fraude que leva o desejo a aderir a uma interpretose universal. A esquizoanálise obviamente denuncia, desconstrói, combate e vai inventar um outro modo. Quando ela diz “Não interprete, experimente”, significa simplesmente o seguinte: entre em acontecimento. Entre em devir. Mas claro que necessariamente há pensamento, há criação de sentido, e do ponto de vista de Nietzsche, por exemplo, poderíamos dizer que há, sim, interpretação, mas quem interpreta agora, quem interpreta doravante não é mais um regime significante de signos, mas sim um campo de forças. São as forças que vão criar o sentido de cada acontecimento. O acontecimento tem sempre uma pluralidade de sentidos. E essa pluralidade de sentidos depende da força que se apodera do acontecimento. Então, nesse sentido, há interpretação, sim, na esquizoanálise, mas aí é interpretação do ponto de vista das forças, não mais de um sujeito, de uma consciência e muito menos de um regime de signos. Entende?
“Esquizoanálise é método?” Sim, é um método, mas é um método da intuição, não é um método mediador que inventa mais mediações para que usemos a razão para chegar a uma liberação do desejo. Muito ao contrário, é um método que leva o pensamento a se tornar um acontecimento de potência.
“A psicanálise atua sobre as resistências para libertar os desejos. Nesse sentido, haveria uma complementaridade com a esquizoanálise?”
Olha, é uma questão difícil e ao mesmo tempo simples. Eu vou responder de modo bem direto. A psicanálise, geralmente, quando ela trabalha sobre as resistências, é para que o desejo reconheça suas faltas, para que o desejo reconheça a sua natureza incestuosa e parricida, para que o desejo entre em um regime de castração, para que o desejo entre em um regime de conformismo, para que ele deixe de racionalizar e entenda que ele, na verdade, opera a partir de um complexo ou de uma estrutura originária.
Então, nós não entendemos que a psicanálise vai desfazer as resistências para libertar o desejo. Nós entendemos que a psicanálise vai desfazer as resistências para fazer com que o desejo e o nosso pensamento se tornem conscientes e reconheçam, no fundo, o quê? Que nós somos seres falhados, que nós somos seres insuficientes e que o que nós precisamos é de uma estrutura da verdade, de uma estrutura normativa do próprio desejo.
A esquizoanálise faz exatamente o contrário. Ela vai realmente libertar as forças do desejo. Há um literato, que é um grande pensador, chamado David Herbert Lawrence, que ele, logo que a psicanálise surgiu, ele se contrapôs à psicanálise, não pelos motivos moralistas da sociedade de então — muita gente tinha se contraposto à psicanálise porque Freud dizia que tudo era sexual e que tinha sexualidade infantil. Óbvio que isso gerou uma grande reação da sociedade conservadora de época, mas Lawrence faz exatamente o contrário: ele não critica Freud porque Freud via sexualidade em tudo. Lawrence também vê sexualidade em tudo. Ele critica Freud pelo que Freud e a psicanálise vão fazer da sexualidade. E a esquizoanálise volta a esse aspecto. Lawrence dizia “Tudo vira segredinho sujo”. Tudo é sexual, mas que bom, tudo é sexual, tudo tem uma energia sexual. Lawrence mesmo diz “Gente assexuada não transmite nada”, então tudo de fato tem uma energia sexual, mas a crítica de Lawrence é o que a psicanálise fez da sexualidade. Ela transforma tudo em um reles segredinho sujo. Tudo, afinal de contas, é Édipo, é o parricídio, é o incesto, e é depois a castração.
Então ele, ao contrário, adere a um processo radical de libertação do desejo. E a esquizoanálise faz o mesmo, ela vai libertar os fluxos do desejo das suas capturas.
Aqui existem muitas questões que preciso de outro nível de aprofundamento. Existe uma aqui interessante:
“É possível estabelecer relação entre a ideia da força ativa do esquecimento em Nietzsche e o conceito de recalque em Freud?”
Olha, não, não é possível, porque a ideia da força ativa do esquecimento em Nietzsche implica o quê? Implica em um recalque, sim, das marcas. Por quê? Porque são as forças ativas que, agindo as forças reativas, não deixam que as marcas venham à superfície e se tornem dominantes. Ao contrário, fazem com que as marcas sejam digeridas e processadas. Os estados de corpo, de mente e de desejo são digeridos, processados suficientemente para virarem combustível de criação de realidade. Isso é a força do esquecimento em Nietzsche, que recalcaria, então, se a gente quiser usar o mesmo termo, recalcamento, uma memória das marcas em prol de uma memória de futuro, da liberação de uma memória de futuro.
Já em Freud, não. O recalcamento em Freud vai liberar o quê? Um desejo que investe forças que contradizem o campo social e que não estariam legitimadas para se manifestar socialmente, moralmente, familiarmente, politicamente e economicamente. Essas forças devem sofrer um processo puritano de moralização ou de castração. Então é completamente diferente.
O recalque em Freud é o recalque dos fluxos do desejo. Se quisermos usar a ideia de esquecimento em Nietzsche, do recalque, seria exatamente o contrário. O recalque das marcas para liberar os fluxos. Em Freud, não. Em Freud é o recalque dos fluxos, e os fluxos em um estado puro não podem aparecer no campo social. Eles devem ser filtrados em um movimento das trocas simbólicas.
Olha, aqui uma questão interessante:
“Houve um momento específico em que você se percebeu virando a chave para este outro modo de viver?”
Sim. Na verdade, não houve exatamente um momento, houve uma passagem que foi ficando cada vez mais clara, mais nítida, como uma lente que vamos polindo. Um momento em que você se pergunta “Mas para onde tudo isso vai? Para onde isso vai dar?”
Queremos o quê, exatamente? Queremos o ideal? Queremos a verdade? Mas qual verdade? Aonde chegaremos? Até o momento em que isso começa a não fazer mais sentido, você vê que não tem lugar de chegada. Não tem lugar de chegada. Na verdade, o lugar de chegada é sempre um acontecimento que retorna sobre a nossa potência e nos potencializa, se quisermos entender a plenitude que tem o real. Porque se você buscar sempre um objeto fora, seja material, seja sobretudo ideal, você jamais vai ser preenchido. Jamais. Você vai alcançar, você vai atingir uma finalidade, e chega lá no fim e vê que aquilo é só um meio, é só um processo, era só um instrumento para você seguir adiante.
Então não há exatamente um fim último, não há um objetivo. Eu acho que esse foi o grande momento em que eu percebi que eu precisava mudar o foco. Isso foi principalmente a partir do encontro que eu tive com a obra de Nietzsche e com a obra de Espinosa, que foi bem na minha juventude, por volta dos 20 anos, 21 anos de idade. E então esse momento onde você percebe que o desejo não está indo em uma direção finalista e nem ele vem de uma origem, mas ao contrário: à medida em que ele está indo para uma espécie de futuro, algo já está retornando sobre uma espécie de passado que jamais deixa de ser em mim.
Então, essa modificação, essa variação contínua, que faz a mutação do desejo sem pausa, faz também com que nos tornemos, sempre e cada vez mais, diferentes de nós mesmos. Então não tem exatamente a busca por uma identidade, e muito menos por um ponto de chegada. Quanto mais nos efetuamos, mais há o retorno do desejo sobre a nossa própria potência, modificando-a e tornando-a diferente do que era.
Então eu acho que esse foi o momento em que a chave começou a virar. Mas daí é todo um processo para lapidar, lapidar, polir, polir e tornar cada vez mais transparente essa zona de passagem. Eu acho que esse é o grande desafio. O desafio da esquizoanálise, o desafio de todos nós, ou de cada modo de viver. Ou seja, encontrar uma zona comum, um plano comum dos encontros onde ao mesmo tempo isso coincida com a afirmação. A afirmação da diferença que se diferencia a partir da nossa potência. Então o comum afirmando a diferenciação da nossa potência significa que o comum faz as bodas com o singular.
O processo de singularização não se opõe, não é dialético na relação com o comum. O comum, à medida em que não é uma forma ideal, que não é uma forma legal, que não é uma forma do universal, que não é uma forma da norma, que não é, sobretudo, uma forma de verdade, e ele é essa zona de passagem sem forma, ele necessariamente afirma, com o plano de coexistência das diferenças, esse processo de diferenciação que nós denominamos como singularização.
Então nós precisamos retomar a nossa linha de singularização. Cada um de nós. A libertação do desejo passa por aí. Quanto mais nos singularizamos, mais comunizamos ou produzimos o comum. E quanto mais produzimos o comum, mais o comum também retorna sobre nós em forma de afirmação dos processos de diferenciação da nossa potência.
Bom, gente…
Isso está em qualquer um de nós. Em qualquer um de nós, por isso que eu digo que a esquizoanálise está ao alcance de todos. Mas, claro, é preciso um certo combate, é preciso um investimento.
E aí existe uma série de questões aqui que falam exatamente disso que eu vou falar agora. Eu vou saltar algumas que estão naquele nível que eu disse: ou já foram respondidas nas aulas anteriores, ou estão… elas exigem um aprofundamento maior que só poderia desenvolver isso em um curso de longa duração, como será o nosso curso de formação.
Mas aqui diz assim, uma questão:
“Sinto que não tenho conhecimento suficiente para captar o ensinamento.”
“Sinto que não tenho conhecimento suficiente para captar o ensinamento.”
Eu diria o seguinte: a esquizoanálise (e o nosso curso de formação também) não exige um conhecimento prévio, um conhecimento suficiente, porque geralmente o que chamamos de “conhecimento” é muito mais uma crença em formas prontas ou no encadeamento de formas prontas do que realmente uma experiência do pensamento.
Então, a esquizoanálise vai te levar — e nos nossos encontros, sobretudo, não paramos de fazer isso — a mobilizar as suas próprias forças de pensamento, e não te dar um modelo de pensamento. Ou seja, à medida em que fazemos a desconstrução, e essa desconstrução não é um processo de tomada de consciência, meramente, ela atinge diretamente o campo afetivo, por isso que ela é eficaz. Como diz Espinosa, não adianta você ter a consciência de uma ideia, porque você pode chegar naquele ponto “Eu sei o que é melhor para mim, eu quero o que é melhor para mim, mas sempre faço o pior”. Como exprime lá, como tem a citação do Espinosa sobre o poema do Ovídio. Não adianta ter a consciência.
A esquizoanálise então provoca as próprias forças, o campo das multiplicidades inconscientes. Para quê? Para que essas forças, uma vez disponibilizadas, elas se tornem capazes de pensar por si mesmas, de criar o próprio caminho. Então a esquizoanálise não mostra nenhuma verdade, mesmo porque toda verdade é uma ficção. A esquizoanálise mostra que todo desejo pode criar a sua linha de acontecimento, o seu devir singularizante. É isso o que a esquizoanálise faz.
Então, aqueles que têm essa preocupação, que não têm o saber suficiente, é uma preocupação que cai por terra à medida em que o que nós fazemos aqui com a esquizoanálise é justamente provocar as forças que se tornam capazes de pensar por si mesmas. Então é esse o ponto. E não é um modelo, não é uma cartilha. A esquizoanálise não dá nenhuma cartilha para que você pense e exerça a clínica. Muito ao contrário, ela te libera exatamente as forças para que você possa criar os próprios protocolos e operadores clínicos da sua própria clínica, mas se você for de outra área, da área da educação, da área das artes, ou do campo jurídico, ou do campo político, onde você está mais inserido, você pode fazer isso tudo também onde você está atuando.
Aí existe uma outra questão que diz assim:
“É possível compreender a esquizoanálise sem ter formação filosófica?”
Sim, porque a filosofia não tem nada a ver com a academia. A filosofia implica um pensamento que toca imediatamente a vida. Então, se nos nossos encontros nosso pensamento toca diretamente a vida e o modo de viver de cada um de nós, é isso o que nos faz também filosofar, é isso o que nos faz pensar sem precisar passar pela academia. Muito ao contrário, muitas vezes onde menos você encontra o pensamento é dentro da academia. É raro ter pensamento na academia. É muito raro. Temos uma ideia completamente falsa da academia. Não que não tenha pensamento na academia, mas se dá muito mais por causa dos invasores da academia do que por aqueles acadêmicos de carteirinha.
“Como me formar em esquizoanálise (se por especialização/mestrado) e ser habilitado na prática clínica como terapeuta? Minha formação em arteterapia junguiana pode contribuir nessa prática?”
Olha, para se formar em esquizoanálise, o último lugar, eu imagino, onde você possa se formar em esquizoanálise é dentro da academia, exceto se realmente tiver um meio de exercer de modo totalmente livre o pensamento e um processo de experimentação, mas isso é a coisa mais improvável que você encontre na academia. Se a academia resolver abrir um curso de formação em esquizoanálise, eu já colocaria os dois pés atrás. Eu suspeitaria muito que pudesse ter alguma coisa de séria nesse processo. Talvez seja muito mais um movimento de captura. Mas enfim, é o que eu disse, às vezes pode ter uma qualidade tal de invasores nas universidades que eles consigam gerar esse tipo de formação.
Mas é o seguinte: a esquizoanálise não depende da academia e dos saberes estabelecidos, e de nenhuma autoridade. É o que eu já disse nos vários encontros, a esquizoanálise depende da potência do pensamento e da liberação que esse pensamento vai produzindo na nossa capacidade de experimentar e de se diferenciar. Então ela realmente é um movimento autônomo, que independe dos conselhos de Estado, que independe das academias e das universidades. É um movimento nômade. É um movimento fora do Estado, fora das instituições, fora das academias. Só estará aí em algum momento por passagem arrebatadora, guerreira, de combate e de desconstrução.
“Nunca li Lacan nem Deleuze. Já ouvi falar da esquizoanálise e vejo que é uma teoria muito promissora. Como devo começar nessa filosofia?”
Então, a esquizoanálise só exige de nós que desejemos estar vivos de modo cada vez mais intenso. Desejando de modo cada vez mais intenso. E afirmando a potência de pensar a partir exatamente de um horizonte afirmativo dos acontecimentos. À medida em que você encontra esse pensamento, você vai percebendo, você vai encontrando os dispositivos que vão te provocando, os elementos que vão intercedendo sobre o seu modo de existir e liberando o seu desejo aos poucos. Claro que não é fácil, você não pode simplesmente largar e se liberar, largar dos estratos, largar do seu modo antigo de viver de uma hora para outra. Isso tem que gerar uma consistência, essa é a prudência. Uma prudência necessária, sem o que você corre riscos de simplesmente cair em processos de delírio e não converter isso em consistência do desejo, do corpo e do pensamento.
Gente, eu estou aqui já além do que eu tinha programado para responder as questões que estavam elencadas aqui. Tem uma série de outras que ficaram por responder, e é o que eu disse, uma boa parte então vocês vão encontrar as respostas nas próprias aulas. Então revejam a aula um, a aula dois, a aula três e a aula quatro, cada uma dedicada a uma dessas zonas de passagem, desses limiares, desses portais do desejo. E outras exigem um aprofundamento tal que infelizmente eu não posso fazer nesse tempo e nesse espaço aqui.
Nós vamos então desenvolvê-las, para aqueles que puderem fazer, no Curso de Formação em Esquizoanálise.
Bom, então eu vou dar uma olhada no chat agora, para ver se surgiram algumas questões aqui.
Bom, eu ainda estou na 19:06. Aqui não tem nenhuma questão ainda.
Vamos ver.
Muita gente dizendo boa noite e de onde está falando. Espera aí.
Deu um salto aqui.
Ah, aqui eu acho que começaram a surgir questões.
19:15.
Aqui tem uma do Gustavo, diz: “Mesa esquizofrênica e corpo sem órgãos. Qual o significado?”
A mesa esquizofrênica aparece a partir de uma obra do Henri Michaux, e eles vão descrever essa mesa esquizofrênica no primeiro capítulo do Anti-Édipo. A mesa esquizofrênica vai ter uma relação com a desorganização ou a quebra de um sistema sensório-motor que se relaciona com os objetos de modo utilitário. Então a mesa vai perder a sua função utilitária, ela vai ser diminuída no seu tampo até o momento em que o próprio tampo vira um ponto, ou seja, ela se torna absolutamente inútil. E, nesse sentido, a mesa esquizofrênica tira, arranca o desejo daquele campo de efetuação utilitário para lançar o desejo em um processo temporal de acontecimento. Eu aqui infelizmente não vou poder me estender mais sobre esse aspecto, mas para falar em uma palavra, é uma espécie de quebra do elemento sensório-motor e da captura utilitária do desejo. Então é um modo esquizo de desejar que eventualmente também é capturado no processo esquizofrênico.
“Como a história incide na esquizoanálise?”
Uma questão do Carlos. A história incide na esquizoanálise à medida em que… O que é a história? A história é tempo. A história se dá no tempo. E é um tempo que se registra, que se acumula. Na verdade, a memória é uma faculdade do próprio tempo, e não do nosso cérebro. O nosso cérebro, e a máquina social, à medida em que investe no sistema de registro, necessariamente depende do próprio registro no tempo do próprio tempo. Acumulação do próprio tempo. Então a história, na esquizoanálise, é vista à medida em que ela não deixa de ser, quer dizer, aquele acontecimento que eventualmente fundou um certo movimento de desejo, uma captura, uma cristalização, um estado, um regime de signos, um regime corporal ou de luz, uma formação social, enfim, segue agindo através de nós.
É como Foucault lidava com a história. Foucault não largou a filosofia e foi fazer história. Ele foi investir, se servindo da história, daquilo que ainda está agindo através de nós, mas que emergiu em algum momento no tempo e em um certo espaço determinado, mas que segue nos modificando e tendo influência sobre nós.
Então, assim como, por exemplo, Nietzsche, quando vai dizer que nós, a condição humana se tornou a condição do tipo reativo. E a condição do tipo reativo não é a nossa essência, foi fabricada historicamente. Então é no tempo que tudo se faz.
Então a história, do ponto de vista mais interessante e ativo, a esquizoanálise a vê como um processo de criação do tempo. Certo?
Rodrigo Ocampos: “Como educar sob a perspectiva libertária da potência de existir, seguindo a si mesmo? Como assim superar a ordem explicadora que estabelece a hierarquia embrutecedora entre os que supostamente detém o conhecimento ante os ‘ignorantes’?”
A educação, Rodrigo, implica… ou ao menos o sistema, a máquina educacional, a máquina obrigatória do ensino, ou a máquina do ensino obrigatório, é uma máquina de produzir subjetividade, é uma máquina de subjetivação, ao mesmo tempo também é uma máquina de produzir competências, do ponto de vista do conhecimento especulativo. Então é uma máquina de subjetivação à medida em que assujeita o desejo, é uma máquina de significação ou de narrativas que investem o pensamento em uma forma de verdade, que é o sujeito competente de conhecimento. O sujeito competente de conhecimento por um lado, o sujeito responsável moral de outro. Então implica aqui uma captura do pensamento, uma competência; e uma captura do desejo na responsabilidade moral, que é uma dívida moral de existência. E também a eficiência corporal.
A máquina educacional investe nesses três polos. O que nós precisamos fazer? Nós precisamos investir na desconstrução desses três polos. Uma educação revolucionária, libertária, é aquela que vai operar a dupla desconstrução nesses três campos. No pensamento através do uso da linguagem; no corpo através do uso do movimento; e no desejo através do uso dos afetos. E religar a existência à sua potência de experimentar. A experimentação ganha um papel fundamental, à medida em que é na experimentação que também você aprende a criar corporeidade intensiva, a se preencher de afetos ativos e a criar realidade no pensamento. Aprende a pensar.
A experimentação é fundamental. A experimentação não é um mero contraponto do pensamento teórico. É na própria experimentação que há uma experiência do pensamento, do desejo e do corpo ao mesmo tempo. A educação tem que entrar nesse viés para ser realmente libertária, e é isso que precisamos investir no campo educacional.
Ah, Anton, meu caro amigo. Tudo bom, querido?
“E como ter acesso a estar contigo uma vez mais?”
Anton, eu vou falar da possibilidade de participar desse curso de formação mais tarde. Imagino que você já tenha ouvido, então daqui a uns minutos, daqui a uns quinze minutos eu vou começar a falar sobre o curso de formação. Tá bom?
Bom, é… Francis quer saber se os vídeos ficarão disponíveis. Sim, os vídeos ficarão disponíveis na plataforma do YouTube para vocês reverem quantas vezes vocês quiserem.
Rafaela diz: “Qual é a periodicidade de oferta dos cursos de formação? De dois em dois anos?
Olha, até agora tem sido anual. Eu não consigo realizar mais do que um por ano. Para ter uma dedicação forte, plena, integral, esses cursos são anuais. Então a turma cinco iniciou em agosto de 2020, a turma seis vai iniciar agora em agosto de 2021. E provavelmente só em agosto de 2022 é que teremos uma outra turma, enfim, mas isso ainda é incerto.
Anton. Pode me telefonar essa semana, sim, querido. Vai ser um prazer falar contigo.
Eliabe: “Como criar para si um corpo sem órgãos?”
É uma questão que vamos desenvolver no curso, cada vez mais.
Mas você pode já acessar um texto do Mil Platôs, que você deve saber, com esse título. “Como criar para si um corpo sem órgãos”.
Mas eu já sinalizei nos encontros anteriores, isso implica um investimento na suspensão. Lembra quando eu falei do Bartleby? “Prefiro não”. E depois que falei da questão da espreita. O “Prefiro não”, o movimento de suspensão, e depois o desenvolvimento desse movimento de suspensão, em uma contraefetuação que envolve a espreita, o investimento no vazio, no silêncio e na solidão. E ao mesmo tempo entrar em um processo de experimentação tal, onde você se diferencia, você não fica no vazio, no silêncio ou na solidão meramente, apenas isso é a condição para que você se ponha em processo de diferenciação. E esse processo de diferenciação gera a intensificação do desejo, que preenche e produz o corpo sem órgãos, que é o nosso corpo de potência. Certo?
Mailson diz: “Qual a diferença entre um corpo sem órgãos e uma máquina desejante?”
O corpo sem órgãos, Mailson, é uma dimensão virtual do nosso corpo, mas ao mesmo tempo é totalmente real. Eu gosto de chamá-lo de corpo de potência. O corpo de potência tem uma dimensão temporal e tem também uma dimensão de movimento que dá o seu aspecto espacial. Mas o movimento no corpo sem órgãos é intensivo.
Na máquina desejante… a máquina desejante implica um corpo sem órgãos. Não existe máquina desejante sem corpo sem órgãos. Mesmo que essa máquina desejante não seja a nossa máquina desejante, mas seja uma máquina desejante do ponto de vista da máquina social. Até aí, também, a máquina social é, forma, investe um corpo sem órgãos do próprio socius, dos modos e das relações de produção dessa formação social. E esse corpo sem órgãos do socius investe através das máquinas desejantes.
Mas também há o corpo sem órgãos que vem, que aparece de modo imanente ao nosso desejo. O corpo sem órgãos aparece em nós como uma espécie de terceiro olho. Não é nem o Eu, nem o indivíduo. Nem o Eu do sujeito, nem o indivíduo do corpo, mas é um terceiro, é um corpo de potência. Mas esse corpo de potência é o corpo sem órgãos do ponto de vista imanente, mas há também um corpo sem órgãos que vem do campo social e da máquina social. Esse corpo sem órgãos geralmente nos atravessa e age através de nós. É quando interiorizamos o Estado, o que eu chamei de preposto de poder em nós. Aí é o corpo sem órgãos da máquina social, do socius, agindo através de nós e nos controlando. Certo?
Maria Eduarda da Costa diz: “Boa noite, pessoas! Grata pela oportunidade. Professor Fuganti, gostaria que você expusesse um pouco mais do seu pensamento sobre as ideias de tempo e memória em Bergson. Mais uma vez, muito grata!”
Maria, olha, é… nós não temos aqui tempo suficiente para expor isso. Isso é bastante complexo. Eu sempre dou, nos nossos cursos de formação em esquizoanálise, eu acabo dando aulas temáticas especificamente sobre isso.
Mas Bergson, só para te falar muito rapidamente, Bergson é um pensador que muda completamente a visão que se tem do tempo até a chegada dele e da sua obra. Ele vai ver o tempo de modo coexistente, assim como nós também vemos as quatro zonas de passagem de modo coexistente. Então, o modo coexistente do tempo é mais importante até do que o modo sucessivo. Há uma coexistência do passado, do presente e do futuro, e um embaralhamento dos tempos.
Bergson também é um pensador que vai investir diretamente no método da intuição filosófica que apreende o real de modo imediato. Ele tem uma obsessão pelo imediato do movimento que atravessa os corpos, pelo imediato do tempo que constitui o espírito e a memória, e pelo imediato do acontecimento que faz a contração entre espírito e movimento no presente.
Ao mesmo tempo, ele vai definir o tempo, vai dar a essência do tempo de modo magistral. Como duração. E há sempre durações dentro de durações, durações dentro de durações. As durações estão sempre implicadas umas nas outras, mas há, na verdade, também uma duração absoluta. Só que essa duração absoluta, exatamente por ser duração, ela faz da ideia de todo um todo aberto.
Então, Bergson é aquele que vai encontrar o absoluto, o absoluto como um todo, o todo na verdade como sendo aberto e não como sendo fechado, porque o todo é constituído pela própria duração absoluta. E durar implica em jamais deixar de ser, de um ponto de vista do ser, e jamais deixar de acontecer e se modificar, do ponto de vista do devir. É uma dupla face do absoluto. O ser que jamais deixa de ser e o devir que jamais deixa de passar ou de fazer passar. Certo? Aqui está a essência do tempo desdobrada nas suas duas faces absolutas, e que também nós participamos delas. Todos nós temos um nascimento e uma morte, uma emergência e uma dissolução, mas nós vivemos, portanto, como uma linha de tempo ou de duração esticada entre aquilo que jamais deixa de ser em nós e aquilo que jamais deixa de variar em nós. Certo?
É uma maneira um pouco breve, bem sintética de falar sobre essas questões que você invoca aqui.
Uma questão aqui bem boa, complexa, da Marli Fernandes:
“Como se dá a produção do corpo sem órgãos na prática clínica, especialmente em pessoas que sofrem com os sintomas da ‘esquizofrenia’?”
De novo: a prática clínica na esquizoanálise implica o método cartográfico do desejo. Cartografar o desejo é encontrar o desejo onde ele está. Mas para encontrar o desejo onde ele está não é fácil, porque o desejo não está simplesmente naquele nível sensório-motor, reduzido ao sensório-motor, com uma certa audição, com uma certa visão, com um certo tato, com uma certa gustação, com um certo olfato ou com uma certa ideia que estaria presa a uma linguagem, a uma narrativa. O desejo está presente também de modo a fazer coexistir os seres de tempo que o atravessam e as camadas de movimento que estão ali presentes, coagindo com o próprio corpo.
Então é preciso encontrar essas linhas de movimento que estão atravessando o corpo e que estão por baixo das formas formatadas, escapando e querendo seguir de modo insistente e obsessivo em um investimento do processo enquanto processo. É preciso encontrar essas linhas, esses fluxos, essas escapadas, essas linhas de fuga, exatamente para inventar uma modulação. Uma modulação que faz com que o desejo comece a criar consistência nessa fluxão, porque é uma fluxão que é efêmera, que se dispersa e que faz do processo um fim e, portanto, fazer do processo um fim é cair novamente em uma parada, em uma captura.
Então, o esquizofrênico de hospital é aquele que fez do processo um fim. É preciso retomar o processo como circuito desejante gerador de consistência. É muito difícil de falar isso aqui em poucas palavras. No curso de formação nós vamos desenvolver isso com bastante rigor e com bastante consistência. Tá bom, Marli? Espero ter minimamente te ajudado.
“A esquizoanálise poderia ser entendida como a prática da beatitude?”
Bom, do ponto de vista da beatitude espinosista, sim. O que é a beatitude do ponto de vista espinosista? Não é se tornar beato, um anjo desencarnado. A beatitude, do ponto de vista espinosista, é você conquistar uma glória na existência, que é um modo livre de existir. É aquele modo que nós aqui designamos como a potência de criar realidade, nos ligar novamente a essa potência de criar realidade. De direito, nós somos essa potência de criar realidade, mas de fato estamos separados do que podemos. A beatitude na existência é reconquistar essa capacidade de existir de modo a não só acontecer em um devir, mas acontecer em um devir ativo, autossustentável, que gera a potência de criar o real e preencher-se a si mesmo desse real. Isso seria, sem dúvida, a beatitude do ponto de vista espinosista.
Eli diz: “Fuganti, eu mesmo posso me esquizoanalisar? Ou só um esquizoanalista clínico pode fazer o processo da cartografia? Como isso acontece?”
É claro que cada um pode se autoesquizoanalisar. Depende da potência do seu pensamento, até onde você chega nesse seu processo de desconstrução. A primeira coisa: você tem que investir ao máximo na sua potência de ser afetado, principalmente inventar em você mesmo algo que não existe socialmente ou não está dado historicamente. Muito ao contrário, nos é roubado o tempo inteiro. Esse algo é uma espécie de terceiro olho em nós que apreende o nosso modo de existir, com o que nos ligamos, o que nos acontece ao nos ligar com isso de uma certa maneira, qual o uso que fazemos disso que nos acontece, e de que modo então, portanto, podemos fazer um uso ativo, afirmativo e criador.
Ou seja, essa espécie de terceiro em nós, que eu chamo de um olho de potência imanente, faria com que pudéssemos nos autoanalisar. Minha questão é: você é capaz de chegar aí sozinho? Se é capaz, muito que bem, você pode, sem dúvida, fazer uma autoanálise que é constante, é permanente. Porque nós não paramos de acontecer, então, portanto, nós não paramos também de fazer um uso daquilo que nos acontece, segundo o que nós nos ligamos e como nós nos ligamos. E, dependendo do uso, se é um bom ou um mau uso, isso pode acarretar um aprisionamento maior, e aí é a análise que vai desconstruir isso em nós, ou uma liberação. Certo?
Gente, bom. Eu acho que cheguei aqui no limite. Aqui existem mais questões, eu vejo que tem uma série de questões. Eu vou fazer o seguinte, eu vou seguir. Deixa eu só ver.
Deixa eu marcar aqui o momento em que eu vi a questão do… Nossa, tem muitas questões aqui.
Eu vou fazer o seguinte, gente. Eu vou explicar agora… vou apresentar o Curso de Formação em Esquizoanálise. E se, no meio disso, eu puder responder a essas questões, eu respondo. Senão eu vou deixar essas questões para uma próxima oportunidade. Aí a gente vê como faz, se eu faço transmissões via Telegram ou mesmo um novo encontro especial para respondê-las, ou de alguma maneira vocês escrevem por e-mail, para a Escola Nômade, para o [email protected], ou mesmo para o meu e-mail, [email protected], e eu vou tentar responder a vocês.
Mas agora eu preciso apresentar o Curso de Formação em Esquizoanálise porque nós, a partir das nove horas, nós vamos abrir as inscrições para quem quiser entrar nesse mergulho profundo de dois anos.
Então é o seguinte:
O Curso de Formação em Esquizoanálise tem suficientes elementos, conteúdo e método para te tornar um esquizoanalista, para que você possa usar esse conteúdo ou esse conhecimento e essas experimentações como uma caixa de ferramentas, uma instrumentalização e exercer a clínica. É claro que ele pode muito mais do que isso. Ele pode ser aplicado, usados esses conteúdos para quem está simplesmente no campo das artes, que é um campo vastíssimo, extremamente rico, e a esquizoanálise é extremamente poderosa para liberar as potências criadoras em nós. Então para quem está no campo das artes ela é fantástica também. Ou para quem está no campo da educação, acabamos de falar alguma coisa sobre educação, ela tem um efeito fantástico de liberação do desejo e de investimento nas nossas crianças, jovens, adolescentes, enfim, que querem realmente se potencializar e não se capacitar.
No campo jurídico também é fundamental, porque ela investe na desconstrução do ressentimento e desse sistema de justiça que na verdade é um sistema de poder, porque se chama Direito, não tem nada a ver com justiça realmente, porque o que se chama de Justiça é um desejo de vingança. Então a esquizoanálise desconstrói o campo jurídico e nos libera para a prática de uma justiça realmente imanente.
E na política é fundamental, porque ela nos libera também do quê? Ela nos libera dessa visão redutora da política que é sempre uma macropolítica, que implica sempre uma busca por organização, seja organização de movimento, seja organização partidária. E a esquizoanálise, o pensamento nômade, a filosofia da diferença e da imanência investe prioritariamente em um plano de composição e não um plano de organização. Então, no campo político, o plano de composição vai fazer saltar a dimensão micropolítica do desejo que está por trás de qualquer dimensão macropolítica. No momento em que você mexe, você lida com a dimensão micropolítica, necessariamente você transforma a dimensão macropolítica. A macropolítica é também uma dimensão efetuadora do desejo, mas ela depende inteiramente dos agenciamentos micropolíticos de desejo que envolvem um campo de desejo e crença.
Então o campo político, seja o campo jurídico, o campo educacional, o campo das artes, a esquizoanálise é realmente um instrumento, uma ferramenta poderosíssima para fazer a crítica, a desconstrução e a liberação das forças de criação em nós.
E obviamente que isso tudo envolve esse efeito clínico necessário que ela tem.
Então…
Qualquer um de nós pode se tornar esquizoanalista ou usar a esquizoanálise nos processos em que está inserido. A esquizoanálise, como eu disse, não é uma mera teoria, ela é um modo de viver, assim como o modo nômade, da filosofia nômade ou da filosofia da diferença. Então ela é um estilo de vida. Um estilo, portanto, ético e estético. Ela envolve a dimensão ética e estética.
A estética é toda potência plástica que ultrapassa o campo moral. E a ética é toda potência seletiva que faz com que afirmemos tudo o que chega até nós, mas não de qualquer maneira. A ética diz assim: “sim ao acaso, mas não de qualquer maneira”. Essa é a dimensão ética.
E a dimensão ética e estética está em tudo. No campo jurídico, no campo educacional, no campo artístico, no campo político e obviamente no campo clínico também.
Então é isso. A esquizoanálise é para quem? É para qualquer um que deseje o suficiente, para mergulhar o suficiente e começar a tocar as próprias forças. E isso é uma condição: tocar as próprias forças e disponibilizar das próprias forças. Então tem que fazer a dupla desconstrução de si e reencontrar a superfície, para daí se pôr em processo criativo.
Quando você atinge essa condição, você é capaz de se tornar esquizoanalista também. Mas você pode simplesmente querer atingir essa condição para se libertar e fazer outras coisas também. Então você pode se tornar esquizoanalista desde que você faça a lição de casa: a desconstrução das prisões do corpo, das prisões da mente e das prisões do desejo. E da grande prisão que é o nosso modo de vida. Então isso é fundamental.
Nesses dois anos, isso é possível? É possível. Vai exigir que você mergulhe nos processos. E o que nós temos de ferramenta nesse curso, para isso? Nós temos primeiramente o seguinte: 32 aulas ao vivo. 32 aulas ao vivo. Essas aulas, no primeiro ano, são quinzenais, e no segundo ano elas se tornam mensais, mais espaçadas para dar tempo de vocês processarem mais, digerirem mais os conteúdos oferecidos e formularem melhor as questões e virem melhor preparados para cada encontro ao vivo.
Então no primeiro ano são encontros quinzenais, sempre às terças-feiras à noite, das 20h em diante. Eu digo sempre que é uma hora e meia de encontro, mas, na verdade, acontece de durar sempre o dobro ou até um pouco mais. Geralmente esses encontros vão das 8h até 10h30, 11h, chega até às 11h30 da noite muitas vezes.
São encontros abertos, ao vivo, que se dividem de três maneiras: dessas 32 aulas ao vivo, doze são dedicadas a aulas temáticas. Por exemplo, aula sobre o corpo sem órgãos. Por exemplo, aula sobre cartografia e rizoma. Ou aula sobre a rostificação. Micropolítica e segmentaridade. Enfim, são aulas temáticas e envolvem também os principais filósofos nômades. Espinosa e a esquizoanálise. Nietzsche e a esquizoanálise. Bergson e a esquizoanálise. Foucault e a esquizoanálise. E por aí vai.
Mais doze aulas. Além dessas doze aulas temáticas, mais doze aulas dedicadas a casos clínicos e a casos até pessoais. Então existe a oportunidade de tratarmos as tipologias dos casos clínicos e também casos clínicos específicos. Pode funcionar até ao modo de supervisão em grupo.
Além disso, tem mais oito encontro abertos, de livre definição de temas ou de questões. Então ao todo são 32 aulas ao vivo. Essas aulas são gravadas e no dia seguinte disponibilizadas na plataforma. Há uma plataforma para o participante, que ele tem acesso a qualquer momento, através de um login e senha individual, e ele acessa então as gravações e pode ver e rever essas gravações quantas vezes quiser. O acesso é vitalício. Aliás, esse é um detalhe: o acesso a todos os conteúdos é vitalício. Então você pode acessar a hora em que você quiser, quantas vezes quiser. Portanto, isso é uma vantagem para quem eventualmente não possa assistir uma ou outra aula e queira ter acesso ao conteúdo. Não pode assistir na hora, online, ao vivo, mas pode assistir depois a gravação. Tá certo? Então isso não é problema.
Que mais em relação a essas aulas ao vivo?
Bom, aqueles que não podem acompanhar ao vivo, podem enviar questões por e-mail para eu tratar na aula seguinte. Então é uma maneira de participar também. Quem tem compromisso às terças-feiras à noite pode participar dessa outra maneira.
Bom, há um cronograma das aulas ao vivo que, logo que vocês acessarem, se inscreverem no curso, vocês vão ter acesso a esse cronograma. Já estão definidos todos os dias, desde este ano de 2021, 2022, até a metade do ano de 2023. O curso termina em 1º de agosto de 2023.
Bom, além das 32 aulas online, ao vivo, onde temos um contato direto e interagimos de modo muito caloroso, muito à vontade, existem também mais 30 aulas dedicadas ao curso propriamente dito ou chamado de Formação em Esquizoanálise.
Então são 30 aulas, de uma hora cada, gravadas, sem público. Elas são gravadas diretamente por uma câmera e ali é exposto todo o conteúdo, os princípios, os pressupostos filosóficos da esquizoanálise, os seus desdobramentos que geram operadores e dispositivos clínicos, para exercer a prática clínica. E são nessas 30 aulas que eu desenvolvo as quatro grandes passagens ou zonas de passagens ou limiares do desejo. Sobre a primeira captura, a segunda captura, a superfície e o plano de diferenciação.
Então isso está contido nessas 30 aulas, de uma hora cada, que também vocês têm acesso a qualquer momento, por quantas vezes quiserem, de modo vitalício.
Além disso, tem mais dois cursos que são oferecidos, cursos como bonificações ou bônus. Um deles é um curso de 15 aulas, que foram aulas gravadas, ministradas presencialmente, sobre a primeira obra que inaugura a esquizoanálise, que é o Anti-Édipo. Esse curso chama Capitalismo e Esquizofrenia, tem 15 aulas, e ali é desdobrado, são investidos e desdobrados os principais conceitos que aparecem nessa obra, principalmente já no primeiro capítulo.
Então isso é fundamental para vocês complementarem essa formação e também aprenderem a lidar diretamente com os textos fundadores da esquizoanálise.
Além disso, tem um outro curso, dedicado ao segundo tomo do Capitalismo e Esquizofrenia, que é o Mil Platôs, que apareceu em 1980. Então esse curso chama Micropolítica e o uso dos afetos, é dedicado a vários platôs decisivos, que envolvem o pensamento e a prática clínica da esquizoanálise. E esse curso está também gravado, foi gravado presencialmente em 16 aulas. Então você tem 16 aulas do curso Micropolítica e o uso dos afetos. Mais 15 aulas do curso Capitalismo e Esquizofrenia, aulas essas que complementam, então ao todo são 32 aulas que complementam o curso de formação em 30 aulas, e mais as aulas ao vivo. Certo?
Então vocês têm aproximadamente 180 horas de conteúdo. São 180 horas de conteúdo que vocês poderão acessar a qualquer momento e também de modo vitalício. A qualquer momento, quantas vezes quiserem, de modo vitalício. Então vocês compram o curso e todo esse conteúdo que pode acompanhá-los, acompanhá-las a todo e qualquer momento que vocês desejarem e necessitarem.
Que mais? O curso é dado no modo… pelo método da intuição filosófica do pensamento, que é um modo de exercer o pensamento em ato, sem ficar preso a sistemas de representação. Então, muitas vezes existem alguns que não estão muito habituados a esse pensamento vivo em ato e buscam por esquemas, por cartilhas, por um método mais sistemático e até burocrático para acessar esse pensamento e exercer a clínica, mas nós vamos descontruindo suficientemente esse modo de pensar para que vocês percebam o que…
Só um instantinho, eu preciso fechar a janela aqui, está um pouco ruidoso agora.
E então esse método filosófico faz com que você perceba que o fundamental não é a aquisição de significações que te tornam erudito, sábio e vão te ensinar a ter um discurso bem articulado e estar com essas verdades prontas para exercer e praticar a clínica. Não. É um modo de pensar por intensidade, que mobiliza o seu próprio campo de forças e te faz criar também os seus próprios operadores clínicos e dispositivos.
É claro que já o conjunto dessas 180 horas de conteúdo oferece suficientemente operadores e dispositivos clínicos para que você possa, a partir daí, desenvolver ainda mais novos operadores e dispositivos. Certo?
Então o curso é como uma caixa de ferramentas que se faz em ato, ao vivo. E, claro, você tem o registro disso, então você pode acessar, recorrer a isso a qualquer momento, recorrer a esse conteúdo. Tá bom?
Então, o método filosófico da intuição é fundamental para se entender a didática, porque é uma outra didática. Não existe aqui aquela didática tradicional. Imagina um acadêmico, um escolar, fazendo análise de um livro. Então você vai fichar o livro. Isso é ridículo para a esquizoanálise ou para esse pensamento nômade. Não existe isso. Você realmente encontra o campo de forças onde aquele pensamento é gerado, onde aquelas ideias, aquele saber é gerado. E ali você entra em acontecimento e você faz um encontro com esse pensamento, um encontro que faz com que criem-se visões, muito mais do você acessa a um plano de verdade e vira proprietário e aquisitor dessas verdades. Então isso é algo essencial.
Outra coisa muito importante é que você tem a possibilidade de se inscrever e desistir em 30 dias, se você achar que não era bem isso que você queria, se você por algum motivo achar que você se enganou ou alguma coisa mudou, ou você simplesmente acha que isso… por algum motivo qualquer, não importa qual motivo, se você em 30 dias se arrepender, você pode simplesmente escrever um e-mail para a Escola Nômade, esse curso é oferecido pela Escola Nômade, você pode escrever um e-mail e imediatamente você terá o seu investimento de volta. Tá? Então você tem 30 dias para pensar bem se é isso o que você quer, se vai valer a pena para você esse investimento, e desistir. Então isso é também uma vantagem que a gente oferece para quem está em dúvida em se inscrever.
Que mais? Nós, assim que liberarmos as inscrições, logo que eu encerrar aqui, a ideia é que seja 21h em ponto, vocês vão ter acesso a um cupom de desconto até amanhã, até segunda-feira, até essa segunda-feira à meia noite. Mais precisamente 23h59 da noite. Já meia noite encerra, esse cupom não vai mais estar disponível. Um cupom com mil reais de desconto no valor total do curso.
E, bom, mas além disso, essa semana de inscrições vai ser uma semana com valor promocional, então até sexta-feira, de qualquer maneira, vocês têm, para quem está interessado em fazer, tem até sexta-feira para fazer a inscrição com valor promocional, com um bom desconto. Mas além disso, para quem se inscrever até amanhã à meia noite tem, além do desconto promocional da semana, tem esse cupom com desconto de mil reais. Certo? Então está bem interessante, bem atrativo para que aqueles que já se decidiram efetuem a inscrição e tenham essa vantagem.
Bom, eu não sei se haveria mais alguma coisa especialmente para falar da questão do curso. Deixa eu ver aqui.
Ah, uma coisa que eu esqueci de falar. Existe um suporte permanente para quem for fazer o curso. Tanto suporte em relação à plataforma quanto o suporte em relação à escola nômade. Então o contato é feito por e-mail ou pelo WhatsApp da escola nômade. E vocês vão ter imediatamente, a qualquer dificuldade técnica ou dificuldade… ou alguma dúvida de outra natureza, vocês vão ter aí uma assessoria imediata. O e-mail é respondido, ou mesmo o WhatsApp é respondido no mesmo dia ou eventualmente no dia seguinte. Então é um suporte que está garantido a todo mundo.
Bom, é isso. Então só repetindo uma coisa aqui interessante. O Curso de Formação em Esquizoanálise é desdobrado nesses quatro grandes movimentos de passagem do desejo por cada limiar. O primeiro limiar então é aquele da queda do desejo que gera o desejo como falta de objeto. Certo?
O segundo limiar é a segunda captura, na verdade, que faz com que esse desejo decaído busque um empoderamento. É o nascimento do sujeito ou da vontade de um sujeito, seja pessoal, seja estrutural, em nós. É um investimento no sujeito. É quando o desejo investe o sujeito nele mesmo. O primeiro é quando o desejo investe o objeto, o segundo é quando o desejo investe o sujeito. Mas, na verdade, o desejo não tem nem sujeito e nem objeto. Ele não carece de objeto e muito menos de se tornar sujeito.
E isso nos leva então para a terceira passagem, que é o reencontro com a superfície comum ou a zona comum de passagem.
E o quarto movimento que é a diferenciação da potência ou a singularização do desejo.
Então é isso, basicamente, o curso. Essa semana, até sexta-feira então, vocês vão poder se inscrever com esse valor promocional. E, se se inscreverem até à meia-noite de amanhã, com mais esse desconto de mil reais. E depois disso, ele volta ao preço normal dele, ao valor normal. Eu não sei exatamente falar de valores, mas vocês vão ter acesso assim que a gente encerrar aqui, aí mesmo nessa página. Vocês clicando, eu vou deixar esse evento aqui aberto, apenas eu vou me retirar, para que vocês possam eventualmente interagir aí e encontrar as informações necessárias. Tá bom?
Bom, nós ainda temos uns dez minutinhos até o encerramento, e eu vou então ler mais algumas questões aqui. Vamos lá.
Rodrigo… essa aqui é a sequência. Diz: “Como educar sob a perspectiva da potência de existir seguindo a si mesmo? Como assim superar a ordem explicadora que estabelece a hierarquia entre os que ‘detém o conhecimento’ ante os ‘ignorantes’?”
Essa aqui eu já respondi, né? Eu já respondi.
Vamos ver outra questão aqui.
Mariana Litvin diz: “Boa noite, Luiz. Gostaria de saber como é a prática concreta. O que é feito em uma sessão de esquizoanálise. Muito obrigada da Argentina”.
Legal, Mariana. Olha, a prática da esquizoanálise, o que é feito em uma sessão é o seguinte: primeira coisa, a esquizoanálise não investe em vínculo entre analista e analisando. Não acredita que a transferência seja um fator decisivo para iniciar um processo de análise. Nem a transferência, nem a criação de vínculo.
A esquizoanálise investe no encontro. Tem que haver encontro entre analista e analisando. E para haver encontro, é preciso desfazer ou limpar a superfície. Limpar a superfície significa desestriar o desejo, o corpo e o pensamento. Ou seja, encontrar a condição do encontro, do encontro entre fluxos de desejo e não entre formas de corpo, de mente e de desejo.
Então é se ligar aos fluxos, e não às formas, fundamentalmente. Aí começa a ter encontro. Porque onde tem forma, seja forma do sensível, a forma passional ou a forma racional, essas formas impedem o encontro imediato com o desejo. Então, em vez de haver transferência, vai haver ressonância. Ressonância com o que exatamente? A ressonância acontece à medida em que o encontro… e ele só se dá quando há uma zona comum de encontro, e a zona comum não tem forma. E dessa zona comum se desprende uma dupla afirmação. A afirmação que envolve o desejo do analisando, a afirmação que envolve o desejo do analista.
Então, há devires de cada um. Nos encontros desses modos de desejar, de agir e de pensar, de se efetuar, enfim, o que acontece então é a ressonância entre esse campo de afirmação. O comum já é um campo afirmativo do desejo. Ele faz sinal, ele é algo que gera acontecimento, mas o acontecimento que acontece ao analista é diferente do acontecimento que acontece ao analisando. Ambos estão em processo.
Então, a composição desses processos significa exatamente que o analista se torna aliado das forças do analisando, que eventualmente estão aprisionadas em algum atoleiro corporal, mental ou afetivo, ou os três ao mesmo tempo. Então, desterritorializar, descodificar esse desejo, descolar esse desejo dos seus atolamentos é um processo que é feito a partir da suspensão, investindo na suspensão das demandas, no alargamento do espaço e do movimento, no esticamento do tempo, na inoculação de vazios, de silêncios e criação de distância. E, nessa mesma medida, colocar o desejo em processo de espreita.
Esse processo de espreita é também a condição da experimentação e da duração. E é da duração que nasce uma linha de diferenciação, de singularização do desejo. Portanto, a linha de liberação do desejo. Nós só nos liberamos quando nós nos ligamos novamente à potência de criar realidade. Não existe outra liberação senão a da liberdade de criar. É só criando que realmente nos liberamos, senão carregamos a realidade pronta, não passamos de burro de carga. Então é preciso acessar essa potência de criar o real. Espero ter te respondido, Mariana.
Bom, dá para a gente responder mais algumas questões. Vamos lá.
“Qual a diferença entre linhas molares e moleculares?”. Naiara. Naiara Matos.
Naiara, é o seguinte, basicamente é o seguinte: as linhas molares são linhas formais que se configuram em formações. Elas, na verdade, são linhas de estratificação. Linhas de sedentarização, linhas de coagulação, linhas que implicam estados de coisas, estados de corpo, estados de desejo, estados mentais, estados linguísticos, estados políticos, enfim. As linhas molares são as grandes linhas. São a realidade macro. A realidade concreta, visível, apreensível pelas formas da sensibilidade e do discurso.
As linhas moleculares são linhas intensivas, portanto, que não têm forma prévia. São linhas que não chegam a se constituir como formas. São linhas que seguem sendo fluxos em acontecimento. Basicamente é isso.
E as linhas moleculares levam o nosso pensamento e o nosso desejo a apreender as multiplicidades potenciais ou qualitativas que nos constituem. Constituem a nós e constituem a todos os seres. E essas multiplicidades diferenciais e qualitativas são essencialmente linhas de tempo e de movimento intensivo. Então o molecular implica duração imperceptível, que não é a duração cronológica do tempo da consciência, mas é a duração que envolve o passado e o futuro ao mesmo tempo, que vai se infiltrando no presente e pondo o presente em um devir imperceptível através das suas linhas flexíveis. Enfim, é alguma coisa que faz com que a gente habite uma outra zona de realidade ou de realização de nós mesmos.
A dimensão molecular é a dimensão da realidade sem forma. A dimensão molecular implica ainda uma dupla realidade: a realidade virtual e a realidade atual. A realidade virtual é uma realidade que não existe, mas é real. E a realidade atual já é uma realidade que existe, mas que, à medida em que ela molecular, ela não se formatou, formalizou ou se codificou ou se territorializou. Ela segue como uma linha aberta, desterritorializante e decodificante. É uma linha que não chega a se fechar ou formar um contorno. Entende?
Então, bom, espero ter te respondido minimamente.
Que mais?
Aqui, Claudia Veras. Claudia Veras diz: “Se o desejo intensivo é produtivo e libertador, porque o desejo intencional parece sempre”… Ah, sim. “Se o desejo intensivo é produtivo e libertador, porque o desejo intencional parece sempre ‘vencer’ a disputa? O exercer desta forma de vida potente é exceção, me parece”.
É. Claudia, é, claro, uma condição humana. Nós podemos tomar isso como uma grande provocação, porque as formações sociais humanas chegaram a um ponto tal que se separaram das suas forças ativas e submeteram as suas forças ativas a uma organização exterior que, claro, depende da própria vida separada do que pode para se sustentar. E ao mesmo tempo em que as vidas separadas do que podem são rebaixadas e desejam de modo a idealizar ou de maneira transcendente, e vão investir nesse centro de soberania, isso vai criar um círculo vicioso, um circuito desejante e vicioso.
E o que se passa, então, aí? Se passa que nós… não existe vida, não existe força, não existe potência na existência que não seja parte da natureza. Nós somos parte. Se nós somos parte, necessariamente nós sofremos a ação de outras partes, muitas vezes muito mais poderosas do que nós. E é preciso que realizemos um combate entre as nossas próprias forças para que as forças ativas em nós sejam dominantes em relação às forças reativas. Isso nos torna livres de ser coagidos por forças maiores do que nós. Por mais enormes que essas forças nos pareçam, nós mantemos a capacidade de não nos deixar coagir ou seduzir por essas forças exteriores que nos determinariam de fora.
Mas há, à medida em que sofremos esses rebaixamentos, e nós vivemos em sociedade, e em uma sociedade que já funciona de modo a ressoar no rebaixamento do desejo, o que se passa exatamente? Essa mesma sociedade, com seus centros de soberania, os seus dispositivos de poder, investem na nossa vida rebaixada nos oferecendo uma salvação ou uma recompensa que faz com se reproduza esse poder central ou esse poder até difuso, de replicação de si e de concentração, em troca do quê? De um serviço prestado a essa máquina social. Nos tornamos função dessa máquina social.
Então, é muito difícil a gente fazer a desconstrução de si sem ao mesmo tempo desconstruir a máquina social. É por isso que não é uma questão individual, é uma questão de percepção, inclusive de esquerda, a percepção do acontecimento que atravessa tanto o indivíduo quanto o campo social e político.
Então é mais difícil, mas nós devemos tomar isso como uma intervenção, uma provocação para a gente exercer ainda mais, levar ainda mais longe a nossa potência de viver e fazer da nossa vida algo cada vez mais digno e extraordinário. Para ver o quão maravilhoso, quão maravilhosa é a existência, e nós podemos, sim, nos tornar plenamente dignos dessa excelsitude, desse elemento extraordinário.
Gente, nós estamos agora chegando então ao final, são 21h01. Eu prometi que ia encerrar às 21h, então já tá na hora de a gente encerrar. E de agora em diante, então, fica aberta aí essa oportunidade, eu considero que é uma grande oportunidade para quem tem interesse então de se aprofundar em tudo isso que levantamos aqui nesses cinco encontros. Foram quatro encontros e mais esse que efetivamente faz parte, é um encontro complementar, mas que sabemos que acabam levantando muitas questões, muitas nuances que precisam de um tempo bem maior, de uma dedicação bem maior, mas aquele, aquela que tem realmente desejo em mergulhar nisso, nós garantimos que é totalmente factível o acesso a esse pensamento, fazer desse pensamento uma visão e um acontecimento de potência que envolve, implica o nosso modo de viver. E transmuta o nosso modo de desejar, de sentir e de pensar, o nosso modo de vida, fazendo com que a gente se torne realmente criador de realidade, que é isso o que importa nessa vida.
Eu agradeço demais a participação de vocês todos, todas. Eu fiquei muito contente, muito emocionado com o nível de envolvimento, de participação, o tamanho do público que participou desses encontros. Foram vinte e tantas mil visualizações, e isso é algo que nos alegra demais. Nós sabemos plenamente que estamos em um caminho que só gera consistência, libertação e alegrias ativas. Fico muito feliz.
Novamente eu queria então agradecer a presença de todos e todas vocês, e nos vemos, para quem for fazer o Curso de Formação em Esquizoanálise, já na primeira aula ao vivo, que terá início no dia 17 de agosto.
E para aqueles que eventualmente não estiverem conosco nessa grande jornada, eu espero encontrá-los, encontrá-las em uma outra e breve oportunidade. Grande abraço a todos e a todas. Beijos e até uma próxima.
Transcrição por Gabriel Naldi