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Saúde, desejo e pensamento (trecho 3 do livro)

“Os três mestres da verdade na antiguidade grega

Na Grécia arcaica, período histórico que antecedeu o nascimento das cidades-estado, a produção da verdade esteve ligada a três tipos de discursos ou de delírios: o do poeta, o do adivinho (ou profeta) e o do rei de justiça (ou sacerdote). É surpreendente e ao mesmo tempo fantástico para nós, acostumados que estamos a opor a verdade à loucura, constatar que para esses gregos a verdade era produzida justamente pela loucura. Um homem louco era aquele possuído por um deus. E é nessa condição que o poeta pode expressar, pelo discurso inspirado, a verdade do passado, pois está possuído pela deusa Mnemósyne cuja presença, em tal tempo passado, permite-lhe dar testemunho da verdade (narrativa dos grandes acontecimentos míticos e das façanhas heróicas que traçaram e estabeleceram a atual ordem divina, cósmica e humana e que, portanto, constituem a sua verdade), através dessa palavra que se apossa do poeta. Também o adivinho pode expressar a verdade do futuro porque está possuído pelo deus Apolo, cuja presença no tempo futuro permite-lhe dar testemunho da verdade do que acontecerá, e que se revela nesse discurso ou delírio que se apossa do adivinho. Do mesmo modo, o sacerdote dionisíaco pode expressar a verdade oculta do presente porque está possuído pelo deus Dionísio, cuja presença, no presente oculto, permite-lhe dar testemunho da verdade escondida, inacessível aos homens comuns, que se manifesta através da fala delirante deste homem divino e purificador”

Trecho de: Luiz Fuganti. “Saúde, Desejo Pensamento”. iBooks. no site: https://mojo.org.br/loja/produtos/saude-desejo-e-pensamento-as-origens-da-filosofia-nomade/

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