Esse curso faz parte de um projeto maior, “bem ambicioso” chamado Filosofia na Primeira Idade, que tem uma visão muito diferenciada em relação a educação, a filosofia, a estética, a ética, a memória. São estas as questões que vamos trabalhar aqui. Educação para Potência é um nome que contrasta com os modos tradicionais que, a meu ver, são todos voltados para uma educação para a obediência.
Desde que o homem é homem existe essa necessidade de produzir-se a si mesmo, de criar maneiras de existir. Se a gente observar como as sociedades primitivas vão trabalhar essa questão da auto produção de si, de signos, de corpos, das relações sociais, que nelas tem essa singularidade, o que chama atenção é que elas não lançam mão de nenhum plano transcendente, de nenhuma divindade fora da natureza, de nenhuma referência racional autônoma.
O devir reativo constitui um campo de forças onde o corpo situa o desejo de maneira tal que você não consegue pensar de outra maneira. Tem um preconceito de base que não tem a ver com o conhecimento, mas com as condições do conhecimento, com as condições do modo de pensar. É essa urgência que eu sinto enquanto oferta dessa proposta de pensar uma educação para potencia e não para obediência. O que eu chamo de unanimidade é que essa visão de educação é uma educação para obediência e não para potencia.
Nossa crítica radical incide sobre um plano suposto, necessária pelo modo de vida reativo do homem, incide sobre esses modos e maneiras de viver da humanidade que demandam um plano fora da natureza, ou mesmo dentro da natureza – mas diferente da natureza, de outra ordem , que seria esse plano transcendente de organização. Ficamos com a questão da educação para a potência a partir de um horizonte criativo, que seria desinvestir ou desconstruir esse plano exterior de referência do homem para liberar essa dimensão imanente da natureza de nós mesmos, nos modos de vida que levamos ou que implementamos.
Se o pensamento nos atravessa, é um pensamento de natureza, é nós enquanto parte de uma natureza que pensa; se o corpo nos atravessa, é nós enquanto parte de uma natureza que é corpórea também e que se move; se uma dimensão de nós mesmos experimenta a escolha, ou a diferenciação, é nós enquanto parte de uma natureza que diferencia, que seleciona; se há uma experiência da produção de continuidade, de duração de si, é porque a própria natureza dura, então nós somos parte da duração da própria natureza. Então, há uma imanência da nossa duração na duração da própria natureza, há uma imanência do nosso pensamento no pensamento da natureza, há uma imanência do nosso corpo no corpo da natureza.
Já vimos bem o que é experimentação, que é um modo de viver que apreende o viver no seu auto fabricar-se e nesse sentido a gente liberou um sentido de experimentação que não é a ideia ordinária que se tem de experiência como troca, como enriquecimento, como consumo. Ligamos a ideia de experimentação com a ideia de fabricação de eternidade na existência. A experiência é a natureza se fazendo, não é apenas algo pronto em nós que experimenta algo pronto fora.
Hoje vamos falar da experiência do corpo. Já focamos bem a ideia de experiência porque a experiência é a porta de entrada de tudo o que nos atravessa. É a dimensão que nos coloca numa posição de imanência e nos tira – se a gente compreende a qualidade dessa experiência fora do sentido ordinário- de uma demanda de orientação transcendente, de uma demanda de um estatuto universal dos valores e de uma interioridade que nos separaria do mundo ou das coisas.
Todo esse campo que vem da percepção até a ação se constitui por movimento é a matéria sobre a qual opera essa maquina de segmentarização do movimento. Deleuze – Guattari dizem que a mediação que encapa o corpo ou que media o movimento do corpo ou que separa o corpo do que ele pode, que separa o corpo orgânico do corpo sem órgãos, ou de um corpo intensivo, ou afetivo ativo é o organismo. Eles chamam de organismo ou estrato do organismo. Não é orgânico, pois orgânico diz respeito à zona da vida sobre a terra e o organismo já é uma captura do orgânico, da vida.