…para que uma economia política do controle coloque o policial, o delator, o controlador dentro de nós. Mais do que investir em câmeras exteriores ou vigilância externa, o controlador está dentro do controlado. Esta é a eficácia maior.
A psicanálise e seu movimento de edipianização estavam nessa mesma esteira. Estão nessa mesma vibe, digamos assim, nessa mesma vibração. Esse aspecto é fundamental. E isso fez também com que o conteúdo do inconsciente psicanalítico desse margem a interpretação — o que o Anti-Édipo, de modo impiedoso, vai chamar de uma “interpretose desenfreada” do desejo. O Anti-Édipo se insurge contra essa interpretose generalizada que se dá a partir de sujeitos supostamente estruturados ou bem-formados que vão buscar os conteúdos traumáticos no interior dos complexos desejantes. E, claro, isso é sempre feito a partir de uma retroprojeção, a partir de uma ilusão de um desejo e de uma vida submetidos às suas marcas, aos seus acontecidos, aos empilhamentos de extratos que vão se interiorizando, se empilhando e construindo uma história pessoal de cada um. A identificação disso na origem, como uma falta que necessita ter uma normatização, uma normalização que é a naturalização do próprio complexo de Édipo. É a naturalização do neurótico, digamos assim.
A Esquizoanálise se insurge contra esse movimento de interpretação e vai dizer que o inconsciente é maquínico, ele maquina porque ele funciona e, ao funcionar, ele não só funciona, mas produz. E, ao produzir, ele também se autoproduz, ele também se autoforma, ele não é apenas funcional.
Transcrição por Gabriel Naldi
Curso de Introdução à Esquizoanálise 2022 (Aula 2 – Pílula 2)