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Cinema Nômade

Cinema que faz ver, cinema como fábrica de visões

O Cinema Nômade é um movimento que investe no pensamento crítico e criativo, na multiplicação dos pontos de vista de práticas culturais diversas e na descentralização de posturas e conhecimentos, e se materializa por meio de exibições de filmes pré-selecionados, cujas temáticas destacam e problematizam os modos da sociedade produzir desejo, subjetividade, corpo e conhecimento. Após a exibição do filme, o debate tem como objetivo oferecer aos participantes um meio vivo de criação de ideias acerca do modo de viver contemporâneo.

godard-filmando

O objetivo do projeto é levar o público a experimentar o que pode o pensamento quando posto em conexão com um uso intenso das sensações estéticas e das forças criativas que existem em todos nós.

A sociedade atual passa por uma crise de criatividade, que por vezes a obriga a responder com reformas precárias aos problemas da miséria, exclusão, violência e decadência de valores, sem transpor as causas desses males. Daí a importância de criarmos dispositivos para reabrir um campo crítico e criativo de percepção e uso das sensações.

A exibição do filme é precedida de uma análise. A projeção, que também pode ser feita de forma descontínua, é intercalada com análise e conversação acerca de cada movimento do filme que contrasta com o senso comum. Este formato oferece uma fruição em forma de aula, um aprendizado sobre a construção da obra, possibilitando vencer, gradualmente, através de questões localizadas, as dificuldades mesmo das obras mais complexas, ricas em pensamentos e sensações que ultrapassam o domínio da opinião geral e do consenso. Esse procedimento conta com a participação ativa da plateia.

História do Cinema Nômade

O primeiro evento de Cinema Nômade realizado pela Escola Nômade de Filosofia aconteceu em 03 de fevereiro de 2006, tornando-se, a partir de então, um evento mensal. Todos os eventos sempre foram oferecidos gratuitamente.

Em 2009 o projeto inaugurou uma segunda fase, recebendo seu primeiro patrocínio, através do Ministério da Cultura, Secretaria de Estado da Cultura e Programa Cultura Viva – Pontos de Cultura. No ano de 2010 o projeto foi contemplado pelo Ministério da Cultura com o Selo Cultura Viva.

Até essa fase do projeto foram realizados um total de 77 eventos e beneficiadas 3.850 pessoas, em sua maioria jovens artistas. Durante esse período de realização o Cinema Nômade recebeu apoios de diversos setores da sociedade civil, instituições públicas e privadas, entre eles: Oficina Cultural Oswald de Andrade, Cinemateca Francesa, Espaço Unibanco de Cinema, LocaWeb, Ecco Press comunicação, entre outras. Foram realizadas parcerias com diversos artistas, entre eles: João Moreira Salles, Grupo XIX de Teatro, Barracão Teatro, Cia de Teatro de Heliópolis, Cia Livre de Teatro, Key e Zetta Cia de Dança, entre outras.

Nos anos de 2012 e 2013 através do projeto Cinema Nômade – Cinema que faz ver, Cinema como fábrica de visões realizou uma sequência de 48 eventos com exibição de filmes e realização de aulas-debates para comunidades localizadas em regiões de alta vulnerabilidade social, escolas públicas e centros culturais da cidade de São Paulo. Estes eventos tiveram o patrocínio de empresas privadas como Dr. Oetker e SIL Fios e Cabos Elétricos por meio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Cultura, Programa de Ação Cultural 2011; e apoio de diretores de cinema e produtoras, como: Débora Diniz, Eduardo Coutinho, João Moreira Salles, Marcos Prado, Downtown Filmes, Video Filmes, Zazen produções.

Em 2014 e 2015 a Escola Nômade realizou ciclos de eventos de Cinema Nômade no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, em unidades da Fundação Casa e em Bibliotecas Públicas Municipais da Cidade de São Paulo, pela primeira vez em formato de Laboratório. Os laboratórios tem como objeto a problematização dos movimentos minoritários, sociais, raciais/étnicos e culturais. As minorias quando querem ser maioria buscam a identidade como uma arma, o que no entanto pode contradizer os movimentos de afirmação de suas singularidades e diferenças. Para colocar o problema e esboçar linhas de liberação geradoras de autonomia para movimentos minoritários, foram realizadas exposições teóricas sobre a natureza do Estado, da Identidade e da Diferença como crítica e ponte para transmutar os modos de se fazer cultura viva.

Eventos realizados

Bibliotecas Municipais da Cidade de São Paulo
Menotti Del Picchia e Affonso Taunay

26 de maio de 2014 às 14h00 na Biblioteca Affonso Taunay
Filme: Raul – O Início, o Fim e o Meio, Dir: Walter Carvalho

29 de maio de 2014 às 14h00 na Biblioteca Menotti Del Picchia
Filme: Jogo de Cena Dir: Eduardo Coutinho

02 de junho de 2014 às 14h00 na Biblioteca Affonso Taunay
Filme: Narradores de Javé, Dir: Eliane Caffé

05 de junho de 2014 às 14h00 na Biblioteca Menotti Del Picchia
Filme: Príncipes e Princesas, Dir: Michel Ocelot

09 de junho de 2014 às 14h00 na Biblioteca Affonso Taunay
Filme: Estamira, Dir: Marcos Prado

16 de junho de 2014 às 14h00 na Biblioteca Affonso Taunay
Filme: Madame Satã Dir: Karim Ainouz

26 de junho de 2014 às 14h00 na Biblioteca Menotti Del Picchia
Filme: O Fim e o princípio Dir: Eduardo Coutinho

02 de agosto às 13h00 na Biblioteca Municipal Menotti Del Picchia
Filme: Nossa Música (Notre musique, França, 2004, 76 min, Direção: Jean-Luc Godard)

06 de agosto às 14h40 Biblioteca Municipal Affonso Taunay
Filme: Príncipes e princesas (Princes et Princesses, França, 2000, 70 min, Direção: Michel Ocelot)

16 de agosto às 13h00 na Biblioteca Municipal Menotti Del Picchia
Filme: Profissão: Repórter (Professione: Reporter, Itália, Espanha, França, 1975, 125 min, Direção: Michelangelo Antonioni)

20 de agosto às 13h00 na Biblioteca Municipal Affonso Taunay
Filme: Príncipes e Princesas, de Michel Ocelot

Fundação Casa

Eventos realizados em parceria com o CENPEC no complexo Raposo Tavares da Fundação Casa para jovens a partir dos 13 anos em medida socioeducativa.

24 de junho de 2014 às 13h30 para jovens entre 13 e 17 anos
Filme: O Solitário Anônimo, Dir: Debora Diniz

04 de julho de 2014 às 13h30 e às 16h30 para jovens entre 15 e 18 anos
Filme: O Solitário Anônimo Dir: Debora Diniz

Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes

Eventos realizados para público do CAPS – Centro de Atenção Psicossocial
Endereço: Rua Inácio Monteiro, 6.900 – Cidade Tiradentes

03 de junho de 2014 às 14h00 no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes
Filme: Raul – O Início, o Fim e o Meio, Dir: Walter Carvalho

04 de junho de 2014 às 14h00 no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes
Filme: Estamira, Dir: Marcos Prado

06 de junho de 2014 às 14h00 no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes
Filmes: Solitário Anônimo / A Margem do Corpo Dir: Debora Diniz

11 de junho de 2014 às 14h00 no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes
Filme: Narradores de Javé Dir: Eliane Caffé

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Centro de Convivência Educativa e Cultural de Heliópolis

E.M.E.F Presidente Campos Salles

Dia 04/09 – das 9h15 às 12h00 – público (5ª série) de 10 a 11 anos
Filme: Os Três Inventores, de Michel Ocelot

Dia 05/09 – das 20h00 às 22h45 – público (EJA) de 16 a 80 anos
Filme: O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha

Dia 17/09 – das 9h15 às 12h00 – público (6ª série) de 12 a 13 anos
Filme: Lixo Extraordinário, de Lucy Walker

Dia 18/09 – das 9h15 às 12h00 – público (8ª série) de 14 a 15 anos
Filme: Estamira, de Marcos Prado

Dia 19/09 – das 9h15 às 12h00 – público (8ª série) de 14 a 15 anos
Filme: Lixo Extraordinário, de Lucy Walker

Dia 20/09 – das 15h45 às 18h15 – público (3ª série) de 8 a 9 anos
Filme: Kiriku e a Feiticeira, de Michel Ocelot

Dia 24/09 – das 9h15 às 12h00 – público (3ª série) de 8 a 9 anos
Filme: Os Três Inventores, de Michel Ocelot

Dia 24/09 – das 15h45 às 18h15 – público (7ª série) de 13 a 14 anos
Filme: Lixo Extraordinário, de Lucy Walker

Dia 25/09 – das 9h15 às 12h00 – público (5ª série) de 10 a 11 anos
Filme: Kiriku e a Feiticeira, de Michel Ocelot

Dia 25/09 – das 15h45 às 18h15- público (7ª série) de 13 a 14 anos
Filme: Estamira, de Marcos Prado

Dia 26/09 – das 20h00 às 22h45 – público (EJA) de 16 a 80 anos
Filme: Estamira, de Marcos Prado

Dia 27/09 – das 15h45 às 18h15 – público infantil (4ª série) de 9 a 10 anos
Filme: Príncipes e Princesas | Os Três Inventores, de Michel Ocelot

Dia 28/09 – das 9h15 às 12h00 – público (8ª série) de 14 a 15 anos
Filme: Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha

Dia 08/11 – das 7h30 às 10h10 – público (7ª série) de 13 a 14 anos
Filme: Lixo Extraordinário, de Lucy Walker

Dia 14/11 – das 7h30 às 10h10 – público (8ª série) de 14 a 15 anos
Filme: O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha

18 de outubro das 14h00 às 17h00 | Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso

Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha

Evento aberto ao público Jovens e adolescentes a partir de 14 anos
Entrada Franca
Endereço: Av. Deputado Emílio Carlos, 3.641, Vila Nova Cachoeirinha – Zona Norte da Cidade de São Paulo

07 de outubro de 2013 das 14h40 às 16h20 | Escola Estadual Exército Brasileiro

O Solitário Anônimo, de Débora Diniz

Endereço: Rua Rebelo da Silva, 127 – Jd São Nicolau – Vila União – Zona Leste.
Evento realizado para 70 alunos do ensino fundamental.

13 de novembro de 2012 das 14h30 às 17h00 | Escola Municipal Des Amorim Lima

Kiriku e a feiticeira, de Michel Ocelot

Endereço: R. Prof. Vicente Peixoto, 50 – Vila Gomes, São Paulo – SP.
Realizado para 200 alunos.

6 de novembro das 19h00 às 22h00 | Escola Estadual Dr Honório Monteiro

Raul – O início, o fim e o meio, de Walter Carvalho

Evento aberto ao público Jovens e adolescentes a partir de 14 anos
Entrada Franca
Endereço: Travessa Magondi, 80 – Chácara Sonho Azul / Jardim Ângela – Zona Sul da Cidade de São Paulo.

02 de outubro das 07h00 às 10h00 | Escola Municipal Dr José Dias da Silveira

Kiriku e a Feiticeira, de Michel Ocelot

Evento fechados para alunos das 5ª séries
Endereço: R. Roque Petrella, 1054 – Vila Cordeiro – Zona Sul da Cidade de São Paulo.

08 de outubro das 07h00 às 10h00 | Emef Doutor José Dias da Silveira

Lixo Extraordinário, de Lucy Walker

Evento fechado para alunos das 6ª séries
Endereço: R. Roque Petrella, 1054 – Vila Cordeiro – Zona Sul da Cidade de São Paulo.

22 de outubro das 10h00 às 12h30 | Emef Doutor José Dias da Silveira

Lixo Extraordinário, de Lucy Walker

Evento fechado para alunos das 7ª séries
Endereço: R. Roque Petrella, 1054 – Vila Cordeiro – Zona Sul da Cidade de São Paulo.

24 de outubro das 07h00 às 10h00 | Emef Doutor José Dias da Silveira

Raul – o Início, o Fim e o Meio, de Walter Carvalho

Evento fechado para alunos das 8ª séries
Endereço: R. Roque Petrella, 1054 – Vila Cordeiro – Zona Sul da Cidade de São Paulo.

CEU Caminho do Mar

02 de outubro das 13h000 às 16h00 | Filme: Lixo Extraordinário, de Lucy Walker

09 de outubro das 18h30 às 21h30 | Filme: Estamira, de Marcos Prado

10 de outubro das 18h30 às 21h30 | Filme: Idade da Terra, de Glauber Rocha

Endereço: Rua Engenheiro Armando de Arruda Pereira, 5.241, Jabaquara – Zona Sul da Cidade de São Paulo.

CEU 3 Pontes

16 de Outubro das 9h00 às 12h00 | Filme: Lixo Extraordinário, de Lucy Walker

Endereço: Rua Capachós com rua Catulé, São Miguel Paulista – Zona Leste da Cidade de São Paulo

CEU Vila Rubi

25/10 das 19h00 às 22h00 | Filme: Edifício Master, de Eduardo Coutinho

29/10 das 18h30 às 21h30| Filme: Terra em Transe, de Glauber Rocha

Endereço: Rua Domingos Tarroso, 101 – Vila Rubi – Zona Sul da Cidade de São Paulo

CEU Uirapuru

23/10 das 09h45 às 13h15 | Filme: O Contador de Histórias, de Luiz Villaça

Endereço: Rua Nazir Miguel, 849 – Jd. João XXIII – Zona Oeste da Cidade de São Paulo

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CEUS – Centros de Artes e Esportes Unificados

02 de outubro das 13h às 16h | CEU Caminho do Mar

Lixo Extraordinário, de Lucy Walker

Eventos realizados em parceria com o programa Vocacional da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo nos CEUs: Caminho do Mar, Vila Rubi, 3 pontes, Uirapuru

Aberto ao público Crianças e Adolescentes a partir de 8 anos

Entrada Franca

Endereço: Rua Engenheiro Armando de Arruda Pereira, 5.241, Jabaquara – Zona Sul da Cidade de São Paulo.

10 de outubro das 18h30 às 21h30 | CEU Caminho do Mar

A Idade da Terra, de Glauber Rocha

Evento aberto ao público Jovem e Adulto

Entrada Franca

Endereço: Rua Engenheiro Armando de Arruda Pereira, 5.241, Jabaquara – Zona Sul da Cidade de São Paulo.

18 de outubro das 14h00 às 17h00 | Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso

Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha

Evento aberto ao público Jovens e adolescentes a partir de 14 anos

Entrada Franca

Endereço: Av. Deputado Emílio Carlos, 3.641, Vila Nova Cachoeirinha – Zona Norte da Cidade de São Paulo

22 de outubro das 07h00 às 10h00 | Emef Doutor José Dias da Silveira

Crônicas de um Verão, de Jean Rouch

Evento fechado para alunos das 7ª séries

Endereço: R. Roque Petrella, 1054 – Vila Cordeiro – Zona Sul da Cidade de São Paulo

24 de outubro das 07h00 às 10h00 | Emef Doutor José Dias da Silveira

Raul – O início, o fim e o meio, de Walter Carvalho

Evento fechado para alunos das 8ª séries

Endereço: R. Roque Petrella, 1054 – Vila Cordeiro – Zona Sul da Cidade de São Paulo

25 de outubro das 19h00 às 22h00| CEU Vila Rubi

Terra em Transe, de Glauber Rocha

Evento aberto ao público Jovem e Adulto

Entrada Franca

Endereço: Rua Domingos Tarroso, 101 – Vila Rubi – Zona Sul da Cidade de São Paulo

29 de outubro das 18h30 às 21h30 | CEU Vila Rubi

Edifício Master, de Eduardo Coutinho

Evento aberto ao público Jovem e Adulto

Entrada Franca

Endereço: Rua Domingos Tarroso, 101 – Vila Rubi – Zona Sul da Cidade de São Paulo

6 de novembro das 19h00 às 22h00 | Escola Estadual Doutor Honório Monteiro

Raul – O início, o fim e o meio, de Walter Carvalho

Evento aberto ao público Jovens e adolescentes a partir de 14 anos

Entrada Franca

Endereço: Travessa Magondi, 80 – Chácara Sonho Azul / Jardim Ângela – Zona Sul da Cidade de São Paulo.

8 de novembro das 7h30 às 10h10 | Centro de Convivência Cultural Campos Salles

Raul – O início, o fim e o meio, de Walter Carvalho

Evento exclusivo para alunos da 7ª série da EMEF Presidente Campos Salles

Endereço: Estrada das Lágrimas, 2385 – Heliópolis – Zona Sul da Cidade de São Paulo.

14 de novembro das 7h30 às 10h10 | Centro de Convivência Cultural Campos Salles

Raul – O início, o fim e o meio, de Walter Carvalho

Evento exclusivo para alunos da 8ª série da EMEF Presidente Campos Salles

Endereço: Estrada das Lágrimas, 2385 – Heliópolis – Zona Sul da Cidade de São Paulo.

21 de novembro das 8h00 às 12h00 | CEU 3 Pontes

Lixo Extraordinário, de Lucy Walker e João Jardim

Evento para alunos das 7ª e 8ª séries da EMEF

Entrada Franca – aberto ao público adolescente

Endereço: Rua Capachos, s/n – Jardim Célia – Zona Leste da Cidade de São Paulo.

27 de novembro das 18h30 às 21h30 | CEU Uirapuru

Terra em Transe, de Glauber Rocha

Evento para alunos da EMEF César Arruda Castanho, da EMEF João XXIII e da Escola Estadual João XXIII

Entrada Franca – aberto ao público adolescente

Endereço: Rua Nazir Miguel, 849 – Jardim João XXIII / Raposo Tavares – Zona Sudoeste da Cidade de São Paulo.

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30/07/2011 | Pinheiros, São Paulo/SP

Sr. Klein (Mr. Klein)

1976, 123 minutos

Diretor: Joseph Losey

Um meio hostil riscado por vidas em fuga, as vezes suspensas, aterradas, infletidas, encurraladas por secreções crescentes de ódio que contagiam todo um corpo social soldado na impotência. Seres Ceifados. Vidas destituídas de si mesmas. Tudo ao gosto de quem prospera ao farejar o cheiro da morte: Sr. Klein.

Forças diabólicas no horizonte de um poder paranoico também embaralham destinos, confundem condutas, trocam identidades, emboscam devires: uma reversão se opera e tudo muda na sorte de um oportunista.

Um outro lado, pronto a passar a fronteira do que estamos em vias de nos tornar. Nosso lado insuspeito? Linha divisória, fronteira além da qual só resta a danação, a condenação fria, a maldição tornada força e mistério!

Atração irresistível. Um destino insondável se tece, inesperado e sem volta.

Qual sinal, qual pista, qual jeito de corpo e voz faria transmutar os seres malogrados? Fazê-los dançar e cantar diante da dor, da morte e do horror. Quem poderia ainda encontrar o humor? A mais eficaz e inocente de todas as destruições, a da alegria que cresce! (por Luiz Fuganti)

28/07/2011 | Pinheiros, São Paulo/SP

Muriel

1963, 117 minutos

Diretor: Alain Resnais

Sinopse: Memórias trituradas, corpos sem superfícies, movimentos quebrados … descontinuidades afetivas, desencontros… o continuum de um fundo intenso que insiste em retornar, insistência do imponderável em vias de se perder na inconsistência de um presente esvaziado de sentido que intensifica o vivo…

31/08/2011 | Pinheiros, São Paulo/SP

Saraband

2003, 120 minutos

Diretor: Ingmar Bergman

Sobre o filme: Testemunha da colheita abortada do ódio secretado pelos meios desarranjados de um familiarismo doentio, de vidas que se perdem na vontade de fruir valores passionais, libidinais, materiais, comandadas por fantasmas oníricos, eróticos e teológicos…
O que podemos nos tornar ou fazer de nós mesmos… depende do modo de vida que somos capazes de inventar… Depende da qualidade do objeto ao qual nosso desejo adere pelo amor e nosso pensamento é capaz de valorar. E quando apenas padecemos da existência, ressentindo todo acontecimento e gemendo com a crueldade que a vida descarrega sobre nós, quando vivemos como sombras, ausentes de nós mesmos… quem vive em nós? Quem vive por nós? O que fizemos de nós, de nossa potência e de nossas forças? O que deixamos que forças do fora fizessem com nossa existência e nos precipitassem em um destino abissal só então tornado irreversível e fatal?

21/10/2011 | Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo/SP

Hiroshima Meu Amor (Hiroshima, mon Amour)

1959, 90 minutos

Diretor: Alain Resnais

Evento realizado em parceria com a Oficina Cultural Oswald de Andrade, POIESIS organização social de cultura, Secretaria Estadual de Cultura e Ministério da Cultura.

Hiroshima Meu Amor é o primeiro longa-metragem do diretor francês Alain Resnais. O filme foi feito no auge da Guerra Fria e foi precursor da nouvelle vague.

Sobre o filme: Um deslocamento radical na percepção da existência por força de um amor; outro foco, outro móvel move então o desejo; lances de tempos por vir e já passados brotam do toque suspenso das peles que ardem e derretem, e por entre os corpos que duram e se dilatam, vozes inauditas emergem, sentidos interrompidos reverberam, intensidades esmagadas ressurgem dos labirintos de tempos soterrados, subterrâneos da infâmia misturados ao extraordinário da vida, entalados, engolfados, sufocados; sussurros de tempos vividos, gemidos dobrados; murmúrios dos movimentos raros e do insuportável esquecidos; memórias inconsoláveis, acontecimentos indigeríveis, fazendo retornar sempre esse algo de indestrutível… insalubres retornos, morredouros da confiança ou movedouros das causas profundas da corrosão da confiança e da força dos afetos mais nobres…?

18/11/2011 | Pinheiros, São Paulo/SP

Aurora (Sunrise)

1927, 173 minutos

Diretor: Friedrich Wilhelm Murnau

Quando pode acontecer de, na vida, perdermos de um só golpe a cabeça, o corpo e o chão (ou superfície)? Não será no lance mesmo pelo qual ganhamos um rosto desejável, com sua estética uniforme de falsas multiplicidades e nos inserimos, rosto e roupagem, em uma nova paisagem que, de tão fantástica, é impossível habitar? – um desterritório feito cidade? Acontecimento fatal e inevitável para a emergente vida urbana em sua condição de troca generalizada que faz de toda relação de sociabilidade uma trapaça? No instante em que zonas móveis, voláteis e sem causa imaginável nos façam alçar voo com as asas da sedução e tecem um plus de poder… ah… e nos prometem aquele gozo a mais sem o qual não faz sentido viver!… mas sem a consistência para o voo da potencialização necessária! deliramos então e sonhamos de olhos abertos, flutuamos em utopias, fantasias, ilusões, ficções… O desejo pode encontrar a ocasião de mal encontrar-se! De ser arrancado de seus ritmos mais lentos ou mais velozes, quando disperso, desatento e descontinuado, entrecortado e banalizado pelo cotidiano rasteiro e sem surpresas, deixa-se seduzir pelo fantástico quimérico, quando carente precisa do que promete sem comprometer-se.
E quando nos damos conta… chegamos a nos dar conta realmente? Retomada de si, do outro em nós, de nós no outro, o que ainda poderia significar? Um resgate do amor por arrepender-se ou por conquistar um modo extra, único e necessário de fruir o acontecimento da existência e a experiência de si na relação com o outro? Um devir, feito de devires e de combates que quebram todos os espelhos, – pois afinal o que pode, mais do que os espelhos, tudo achatar e tornar míseras miríades com suas falsas profundidades, sem real profundidade nem duração, esta essência rara do tempo de que é feita a vida? (por Luiz Fuganti)

19/11/2011 | Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo/SP

Príncipes e Princesas

2000, 70 minutos

Diretor: Michel Ocelot

Evento realizado em parceria com a Oficina Cultural Oswald de Andrade, POIESIS organização social de cultura, Secretaria Estadual de Cultura e Ministério da Cultura.

Sinopse: Príncipes e Princesas é um filme de silhuetas animadas, em que um casal de garotos encena peças de teatro, auxiliado por um velho técnico desempregado. Transformados em herói e heroína, os dois viajam do passado remoto ao futuro distante para todos os cantos do mundo, mostrando a beleza do Antigo Egito, a poesia da arte japonesa, o romance da Idade Média e os prodígios do ano 2000.

01/12/2011 | Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo/SP

Kiriku e a Feiticeira

1998, 74 minutos

Diretor: Michel Ocelot

Evento realizado em parceria com a Oficina Cultural Oswald de Andrade, POIESIS organização social de cultura, Secretaria Estadual de Cultura e Ministério da Cultura.
Sinopse: Kiriku ou Kiriku e a Feiticeira é um longa-metragem de animação franco-belga de 1998 dirigido por Michel Ocelot. O diretor do filme, passou parte da infância na Guiné, onde conheceu a lenda de Kiriku. O filme retrata uma lenda africana, em que um recém-nascido superdotado que sabe falar, andar e correr muito rápido se incumbe de salvar a sua aldeia de Karabá, uma feiticeira terrível que deu fim a todos os guerreiros da aldeia, secou a sua fonte d’água e roubou todo o ouro das mulheres. Kiriku é tratado de forma ambígua pelas pessoas de sua aldeia, por ser um bebê, é desprezado pelos mais velhos quando tenta ajudá-los, porém, quando realiza atos heróicos, suas façanhas são muito comemoradas, embora logo em seguida voltem a desprezá-lo. Apenas a sua mãe lhe trata de acordo com sua inteligência.

03/12/2011 | Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo/SP

Meu Vizinho Totoro (Tonari No Toroto)

1988, 86 minutos

Diretor: Hayao Miyazaki

Evento realizado em parceria com a Oficina Cultural Oswald de Andrade, POIESIS organização social de cultura, Secretaria Estadual de Cultura e Ministério da Cultura.

Sinopse: As irmãs Mei e Satsuki Kusakabe mudam-se com seu pai para uma vila rural no interior do Japão, com o objetivo de ficar perto da mãe, que está convalescendo em um hospital. Satsuki tem dez anos de idade, e sua irmã, seis. Animadas com a mudança, elas correm e brincam ao redor da nova casa, explorando o lugar e se admirando com o bosque dos arredores.

15/12/2011 | Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo/SP

Estamira

2004, 121 minutos

Diretor: Marcos Prado

Evento realizado em parceria com a Oficina Cultural Oswald de Andrade, POIESIS organização social de cultura, Secretaria Estadual de Cultura e Ministério da Cultura.

Sinopse: Estamira Gomes de Sousa (Estamira), conhecida por protagonizar documentário homônimo, foi uma senhora que apresentava distúrbios mentais, vivia e trabalhava (à época da produção do filme) no aterro sanitário de Jardim Gramacho, local que recebe os resíduos produzidos na cidade do Rio de Janeiro. Tornou-se famosa pelo seu discurso filosófico, uma mistura de extrema lucidez e loucura, que abrangia temas como: a vida, Deus, o trabalho e reflexões existenciais acerca de si mesma e da sociedade dos homens. “Ela acreditava ter a missão de trazer os princípios éticos básicos para as pessoas que viviam fora do lixo onde ela viveu por 22 anos. Para ela, o verdadeiro lixo são os valores falidos em que vive a sociedade”, comentou Marcos Prado, diretor do filme. O documentário “Estamira” teve repercussão internacional, angariando muitos prêmios e o reconhecimento da crítica.

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29/01/2010 | Pinheiros, São Paulo/SP

O Discreto Charme da Burguesia (Le Charme Discret de la Bourgeoisie)

1972, 102 minutos

Diretor: Luis Buñuel

Mistura de situações reais da história com sonhos e devaneios dos personagens. Crítica feroz e cheia de humor aos modos e à hipocrisia da vida social burguesa. Reunidos em um típico jantar burguês, seis amigos não conseguem fruir a ocasião, em virtude de uma sucessão de acontecimentos estranhos e incomuns.

26/02/2010 | Casa de Teatro Maria José de Carvalho – Ipiranga, São Paulo/SP

A Caça ao Leão com Arco (La Chasse au Lion à L’ Arc)

1965, 80 minutos

Diretor: Jean Rouch

Evento realizado em parceria com a Cia de Teatro de Heliópolis e Cia de Solistas

“Os caçadores Songhay, uma casta hereditária, são os únicos que possuem o direito de matar leões. Aos pastores só é permitido jogar pedras para afugentá-los. Os Peul (povo nômade africano) estimam que o leão seja necessário ao rebanho, e sabem identificar cada leão por seus traços. Mas, quando um leão mata demasiado gado, é preciso suprimi-lo, pois este é um leão assassino” (J. Rouch).

De 1957 à 1964, Rouch seguiu os caçadores Gaos da região de Yatakala e o filme retraça os episódios desta caça na qual técnica e magia estão intimamente ligadas: fabricação dos arcos e flechas, preparação do veneno, rastreamento e ritual de sacrifício. Mas o velho leão assassino, denominado Americano, conseguirá evitar todas as armadilhas, e os Gaos apenas aprisionarão duas de suas fêmeas. Após a caça, os homens contam a seus filhos a história de gaway gawey, a maravilhosa caça aos leões.

26/03/2010 | Pinheiros, São Paulo/SP

O Estado das Coisas (Der Stand der Dinge)

1983, 125 minutos

Diretor: Wim Wenders

Uma reflexão sobre o cinema e sua concepção. O filme reflete o choque entre duas concepções de cinema: o cinema autoral, independente, com liberdade criadora, e o cinema-indústria, típico de Hollywood, em que o diretor tem que se enquadrar no que pretendem os produtores, buscando, acima de tudo, o maior lucro possível. Um alemão dirige um filme, mas os rolos do filme acabam. Todos ficam ociosos, procurando o que fazer, aguardando que o produtor americano libere o dinheiro para o restante das filmagens.

30/04/2010 | UNE Vila Mariana, São Paulo/SP

Monika e o Desejo (Sommaren med Monika)

1965, 96 minutos

Diretor: Igmar Bergman

Evento realizado em parceria com o Centro Cultural Gianfrancesco Guarnieri e Circuito Universitário de Cultura e Arte da União Nacional dos Estudantes – CUCA da UNE.

Os modos de viver na adolescência e o tornar-se adulto. Futuro? O que bate à porta da juventude? Armadilhas? Liberações? Em cena a sensualidade, a leveza, a trapaça… o futuro triturado. Desvela-se aquilo que move o desejo das personagens, dos tipos de existência: o maquinismo das vidas de escasso devir. Vidas manipuladas que maquinam um futuro improvável. Entre as divergências, afetos em comum: carência e fantasia. Escapes? Outros horizontes se apresentam? Não! Se criam então… ?

28/05/2010 | Pinheiros, São Paulo/SP

Vício Frenético (Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans)

2009, 121 minutos

Diretor: Werner Herzog

Esse filme não é um remake e pode trair a hipocrisia das críticas que distorcem grosseiramente o que há de mais fino e inteligente no modo de abordagem da zona intensiva do vivo. Aquilo que não se é capaz de suportar, cega! O que poderia ser um clássico belo e ordinário, revela-se um desconcertante combate tanto às boas quanto às más intenções. Muito além do riso fácil ou do deboche, o filme apresenta um humor sutil, raro e vertiginoso, capaz de frustrar a lógica pueril das vidas desintensificadas, ou o que dá no mesmo, saturadas de intencionalidades. O filme desloca e invoca uma percepção para a urgência do preenchimento intensivo da natureza, conduzido por um pensador incorruptível e honesto além de toda estultície moral dos crentes no bem e no mal. (por Luiz Fuganti)

25/06/2010 | Pinheiros, São Paulo/SP

A Missão (The Mission)

1986, 124 minutos

Diretor: Roland Joffé

Sob a tutela de Deus e do Estado promoveu-se talvez o maior de todos os holocaustos, o dos povos da Terra enquadrados como sociedades primitivas, sem história, sem alma, sem razão, enfim sem futuro.

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27/02/2009 | Pinheiros, São Paulo/SP

Amarcord

1976, 127 minutos

Diretor: Federico Fellini

Um encontro especial! Comemoração de 3 anos de exibições do Cinema Nômade.

Amarcord é um filme feito de recordações? Lembranças pessoais de infância? Não! É uma visão não do inconsciente guiado por uma consciência reflexiva, mas do tempo em estado puro retornando sobre si mesmo, em modos vividos reiventados. O passado se fazendo sempre inédito e contemporâneo de nossos atravessamentos presentes. Memória feita de puras intensidades jorrando em blocos. Blocos de afetos trans-individuais, de pensamentos transpessoais, de discursos indiretos livres, sem sujeitos nem objetos determinados. Fellini nos mostra a vida em estado de transbordamento, apreendida aquém da intencionalidade e dos dramas dos personagens, acontecendo necessariamente em experimentações transcoletivas, sob e sobre as determinações de um rebanho; e que põem o desejo em estado de flutuação incapturável, quando insuflado por atmosferas de primavera descongelante e por elementos feitos de sensações, por forças imediatas de sexualidade, por jogos lúdicos de expressões insinuadas, por extrações de humor…..Mas que, não parando de ser confrontada com os limites ou condições de existência e suas coações grosseiras, re-ascende e corrobora as velhas instituições perversas e seus frutos, bichados e aberrantes, egressos dos estados miseráveis e impotentes de vidas mumificadas. Com isso se faz a Igreja, a Família, a Escola, o Trabalho, a Pátria e o Estado….com o cimento de conteúdos subjascentes de humores frustrados, que alimentam modalidades de desejos capturados e prontos para investir, na sua fluidez lasciva, uma modulação fascista. Aberrações simultaneamente trágicas e hilariantes, desejos quebrados, desritmados, constitutivos das tonalidades micro-fascistas das subjetividades; paisagens de sombras, zonas escuras, mas também matizadas por clarões de afeto em estado puro e que traçam linhas de fuga, expressas na leveza de tudo que dança e faz dançar, da alegria primeira da vida nua que também tem a última palavra, apesar e além dos destinos pessoais. O riso da vida transpessoal irredutivelmente criativa como resposta às imposturas das autorizações humanas fundadas na tristeza, acontecendo nas entrelinhas de suas instituições opressivas e seus poderes. (por Luiz Fuganti)

27/03/2009 | Higienópolis, São Paulo/SP

F For Fake

1974, 87 minutos

Diretor: Orson Welles

Algo de essencial na e da natureza é pratica de simulacro! Haveria então algo de natural no humano enganar que inviabilizaria o bem e as boas intenções sempre punidas? Poder de trapacear e mentir? Ou então a própria trapaça e mentira como fontes de poder? E se a Verdade, o Original, o Modelar fossem as trapaças supremas? O gosto pela mistificação, a eleição da verdade como acesso ao real, pode ser a primeira grande mentira, a grande trapaça universal investida com garantia de lucro certo: aquela dos homens de bem, os justos e os verídicos, que desperta seus guardiões, os experts no raro, no belo, no original, no verdadeiro! Quem precisa de experts? Quem precisa da verdade? Quem em nós a cultiva? E o que realmente queremos ao cultivá-la? Não será melhor trapacear para controlar e ganhar com o que nos ameaça? Poderia a cópia tornar-se melhor que o original? E o original, poderia não ser reconhecido pelo seu criador? Experts enganados pela potência do simulacro? (escrito por Luiz Fuganti)

24/04/2009 | Pinheiros, São Paulo/SP

Dead Man

1995, 121 minutos

Diretor: Jim Jarmusch

Sinopse: Dead Man é a história da viagem física e espiritual, de um jovem, num território hostil e selvagem. William Blake (Johnny Depp) viaja para as mais longínquas fronteiras do oeste americano, perdido, gravemente ferido e, perseguido por pistoleiros, encontra um nativo americano chamado “Ninguém”, que acredita que Blake seja na realidade o poeta inglês. Belíssimo road movie do Oeste, com problematizações de existência e ritmo hipnótico, moldurado por paisagens deslumbrantes de tempos quaisquer. Dead Man, tornou-se uma obra-prima por reinventar um gênero, que já tinha sido explorado a exaustão, um western sensível, misterioso e filosófico.

29/05/2009 | Pompeia, São Paulo/SP

Taxi Driver

1976, 114 minutos

Diretor: Martin Scorsese

A Nova York dispersiva é vista pelo retrovisor das lentes lentas do filme-fluxo de Scorcese. Táxi Driver é a balada-catálogo de todos os clichês psíquicos, todos os “chichês óticos e sonoros” da cidade-néon. A multidão perdendo os seus contornos, tornando-se necessidade de fuga, desconstrução do espaço, invenção de novos territórios sub-urbanos, extra-ações e infra-ações que esgarçam a fibra nervosa que encadeia as ruas, os personagens, os acontecimentos. Sem totalidade, mas com imagens flutuantes, é o acaso que se torna o único condutor. Toda uma série de “boas intenções” fadadas ao fracasso. Travis convida uma rapariga para uma saída e leva-a a um filme pornô. Travis quer ser amigo de uma prostituta menor e acaba por assustá-la. Travis hesita entre se matar e cometer um crime político. Como se os acontecimentos não lhes dissesse mais respeito, como se as ruas não lhes tivesse mais pertença, como se as irregularidades do trajeto não lhes fosse mais acidentes, como se as geografias das esquinas não lhes determinasse mais o itinerário, como se o que se julgava monotonia nunca deixasse de ser criação e como se onde só se via sempre “repetição”, nunca deixasse de ser diferença…

26/06/2009 | Cinemateca Brasileira, São Paulo/SP

Liberdade, igualdade, fraternidade e então… (Liberté, égalité, fraternité et puis après)

1987, 80 minutos

Diretor: Jean Rouch

Napoleão Bonaparte, um ano após sua nomeação como General, dá ordem de prisão para o haitiano Toussaint Louverture, também nomeado General de Brigada pela França. Encarcerado no forte de Joux, ele vem a falecer em 1803 sem ter sido julgado. Para comemorar a revolução, os haitianos tentarão reconciliar a vítima e o carrasco através de um grande ritual vudu frente aos Invalides.

31/07/2009 | Butantã, São Paulo/SP

Os Mestres Loucos (Les maîtres fous)

1955, 26 minutos

Eu, um negro (Moi, un Noir)

1958, 72 minutos

Diretor: Jean Rouch

O cineasta e etnólogo Jean Rouch fez quase todos os seus 120 filmes na África, aonde chegou aos 24 anos como engenheiro de estradas. Rouch põe em xeque as noções de ficção e realidade. Sobre Eu, um Negro, rodado na Costa do Marfim, ele diria: Sabia que iríamos mais fundo na verdade se, em vez de termos atores, as pessoas interpretassem a própria vida. O filme segue um grupo de amigos que vive de biscates. Aceitando a proposta de Rouch, cada um imaginou ser um personagem, inventou uma história, encenou-a pela cidade e depois, assistindo às cenas captadas (sem som), recriou as falas que havia improvisado. O tempo não desfez em nada a força desse filme. Tampouco amenizou o impacto de Os Mestres Loucos, rodado em Gana. Num cruzamento desconcertante de religião, história e individualidade psíquica, o filme mostra uma seita cujos membros, em transe, personificam figuras do colonialismo inglês. No auge do ritual de possessão um animal é sacrificado e comido pelos “mestres loucos” – trabalhadores imigrantes que logo retomarão seu cotidiano sem mistério.

28/08/2009 | Pinheiros, São Paulo/SP

O Selvagem da Motocicleta (Rumble Fish)

1983, 94 minutos

Diretor: Francis Ford Coppola

Rumble Fish (peixe de combate), filme de Coppola renomeado na tradução brasileira como O Selvagem da Motocicleta, traz a superfície o problema das vidas de uma juventude encurralada numa atmosfera urbana própria para enfraquecer, capturar e tornar o desejo dependente. O motor abstrato da sociedade, o capital e suas trocas esterilizantes e niveladoras, se insinuam como pano de fundo de uma tragédia urbana. Vidas em busca de motivos que tornem o existir interessante, em contínua variação; uma procura desesperada pelas zonas relacionais de intensidade manchadas por uma paisagem povoada por trapos humanos. Os meios de diferenciação, os dispositivos de combate, as conquistas de modos intensivos de ser, tudo isso escapa a tipos que só encontram prazer ou saída na vida em dissolução, nos afetos que ao preencherem-na operam como entorpecimento, como desvio de si e resposta às dores e sofrimentos intoleráveis e sem sentido, exceto o de fazerem o homem se render, cansado e sem pespectiva, ao conformismo generalizado dos impotentes, de uma sociedade fraca. Vivos aos trapos, separados da capacidade de situarem-se num campo fatídico de forças trituradores de desejos e portanto longe de verem-se cúmplices e/ou protagonistas de usas cadeias e tomados de dentro como elementos do próprio problema que os coage. Territórios em decomposição servem de arapucas, orquestradas imperceptivelmente por linhas de força daquele poder que faz das paixões tristes o maior de todos os negócios, o negócio dominante que quer se fazer passar por vida, mas que não pode fazê-lo sem rebaixá-la, sem vergar e substituir a vida intensa, como uma pálida lembrança da vida, como narcótico e esquecimento maior da própria morte em vida. Para modos impulsivos de viver impõe-se criar expressividade a todo o custo, traçando linhas mortíferas de fuga. Mas então só resta o confronto, a desistência, a morte. O jovem da motocicleta difere, intempestivo e precipitador. Vislumbra linhas de fuga que ele mesmo, pessoalmente, já não pode mais traçar. Rasga no fundo cinza de uma humana natureza morta, criando uma paisagem de cores à qual já não pode mais juntar-se. (escrito por Luiz Fuganti)

25/09/2009 | Casa Livre – São Paulo/SP

Uma mulher sob influência (A Woman Under the Influence)

1974, 155 minutos

Diretor: John Cassavetes

Evento realizado em parceira com a Cia Livre de Teatro

Sétima produção de Cassavetes, “Uma Mulher Sob influência” é considerada uma das obras-primas do diretor. Lançado em 12 de Outubro de 1974, o filme recebeu duas indicações ao Oscar: melhor atriz (Gene Rowlands) e melhor diretor. Considerada uma obra “culturalmente significante” pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, o filme foi também selecionado para preservação no “National Film Registry”.

27/11/2009 | Aclimação, São Paulo/SP

A Infância de Ivan

1962, 95 minutos

Diretor: Andrei Tarkovski

Durante a segunda Grade Guerra, os russos tentavam combater a investida nazista em seu território. Nas frentes soviéticas, Ivan, um garoto órfão de 12 anos, trabalha como um espião, podendo atravessar as fronteiras alemãs para coletar informação sem ser visto, e vive sob os cuidados de três oficiais russos. Mas, após inúmeras missões, e com um desgaste físico cada vez maior, os oficiais resolvem poupar Ivan, mandando-o para a escola militar.

18/12/2009 | Vila Maria Zélia – Zona Leste, São Paulo/SP

Jogo de Cena

2006, 105 minutos

Diretor: Eduardo Coutinho

Evento realizado em parceria com o Grupo XIX de Teatro

A partir de um anúncio em um jornal popular do Rio de Janeiro, algumas mulheres foram selecionadas para contar algum episódio de sua vida. As histórias, porém, são contadas duas vezes. Uma pela mulher que viveu o fato, e a outra por uma atriz que interpreta aquele momento.

18/12/2009 | Tatuapé, São Paulo/SP

A Cólera dos Deuses (Der Zorn Golles)

1972, 95 minutos

Diretor: Werner Herzog

No século XVI, uma expedição de conquistadores espanhóis, enfrentando a febre, os índios e as feras, entra na selva amazônica em busca do Eldorado, o fabuloso reino de ouro. Lope de Aguirre, um aventureiro ambicioso, derruba Pedro de Ursua (chefe de seu grupo) e persuade os soldados a abandonarem Pizzaro, comandante da expedição. Mais tarde, Gusman, o novo líder proclamado por Aguirre é também eliminado. 0 conquistador assume o poder com fanatismo exigindo a obediência de todos com violência. Mas aos poucos, a selva vai dizimando toda e expedição.

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25/01/2008 | Cerqueira César, São Paulo/SP

A Idade da Terra

1980, 160 minutos

Diretor: Glauber Rocha

O filme mostra um Cristo-Pecador, interpretado pelo Jece Valadão; um Cristo-Negro, interpretado por Antonio Pitanga; mostra o Cristo que é o conquistador português, Dom Sebastião, interpretado por Tarcísio Meira e mostra o Cristo-Guerreiro de Lampião, interpretado pelo Geraldo Del Rey. Quer dizer, os Quatro Cavalheiros do Apocalipse que ressuscitam o Cristo no Terceiro Mundo, recontando o mito através dos quatro evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João, cuja identidade é revelada no filme quase como se fosse um Terceiro Testamento. E o filme assume um tom profético, realmente bíblico e religioso. (Glauber Rocha)

15/02/2008 | Santa Cecília, São Paulo/SP

Rashomon

1950, 88 minutos

Diretor: Akira Kurosawa

Kurosawa revela, com este filme, a plurivocidade do desejo em seus investimentos e crenças. Com fino e sagaz rigor, mergulha e revolve as regiões mais inconfessáveis do inconsciente, que movem o querer de modos humanos tomados por virtuosos, mas que escondem misérias e impotências sob os valores do bem, da justiça, da honestidade, da fidelidade. Tipos humanos fadados a falsear o real, desfigurar os outros e fugir de si mesmos. Os VALORES como MÁSCARAS, como efeitos óticos numa encenação social como muletas da impotência. A deformação tornada necessária, o valor que esconde um desvio de um si tornado fraco, a vontade flagrada em seus comandos ocultos: medo e poder. A fraude e a mentira como motor dos valorosos homens Bons, Justos e Verazes! Kurosawa multiplica as versões, embaralha as histórias, diferencia as vozes: e logo vemos surgir camadas inesperadas do delírio e da alucinação que sustentam os modos de produção do desejo dos homens e das suas verdades. A cada narração do suposto mesmo acontecimento, explode novos sentidos de desejos inconfessáveis, avaliações encobertas, posições travestidas. Multiplicam-se os pontos de vista, não sobre a mesma história, mas sob um elemento de acontecimento que desloca a cada vez e destitui, numa destruição necessária, o lugar do Juízo dos Homens de Bem. (por Luiz Fuganti)

14/03/2008 | Santa Cecília, São Paulo/SP

O Homem da Linha (De Wisselwachter)

1985, 97 minutos

Diretor: Jos Stelling

Uma relação improvável, em um lugar qualquer, entrecruza as linhas desviantes de personagens a deriva. Com uma narrativa anti-dialógica, Jos Stelling lança o ruído contra o verbo, em uma magnífica exposição do afeto e da natureza. Num bailar de devires, animalescos e pueris, o encontro do estranho agulheiro com a bela francesa faz descongelar o deserto, eletrizando o tempo puro dos espaços vazios e das imagens sonoras. A atmosfera gelada, a sonoplastia rítmica e as alternâncias de luz e de cor criam as nuances e densidades da topografia subjetiva dos territórios de passagem. Arrebator e sensível, “O Homem da Linha” é ao mesmo tempo a desconstrução poética dos signos linguísticos e o amor louco de uma animalidade total. (por Alessandro G. Campolina)

11/04/2008 | Barra Funda, São Paulo/SP

Faces

1968, 130 minutos

Diretor: John Cassavetes

Como extrair um espaço qualquer de um estado de coisas dado? Talvez seja este o problema que Cassavetes não cansou de se colocar, através de um cinema do rosto. Toda uma história dos modos de existência, das escolhas, das falsas escolhas e da consciência da escolha, que preside as séries que se multiplicam em Faces. Toda uma cidade marcada por espaços desconectados e personagens perambulantes, em planos-paisagens. O diretor, pai do cinema independente americano e criador de uma estética despojada, sempre afirmou que o grande tema dos seus filmes é o amor. Seus personagens querem amar, mas são impedidos pelas circunstâncias, pelos problemas do dia-a-dia, pela rotina do casamento, pelos sentimentos conflitantes de medo, inveja e paixão, pelos impulsos sexuais muitas vezes desastrados, pela incapacidade total diante de um mundo que excede. Em Faces, o desmoronamento da conjugalidade é o fio condutor de um ataque constante às instituições que colonizam a vida e engendram os modos utilitários de relação. Um mapa de afetos, um combate à representação, um mergulho no trágico, as muitas faces da América… (por Alessandro G. Campolina)

26/04/2008 | Virada Cultural, São Paulo/SP

Estamira

2006, 115 minutos

Diretor: Marcos Prado

Estamira é uma mulher de 63 anos que sofre de distúrbios mentais. Ela vive e trabalha há 20 anos no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, um local que recebe diariamente mais de 8 mil toneladas de lixo da cidade do Rio de Janeiro. Com um discurso filosófico e poético, Estamira analisa questões de interesse global.

Solitário Anônimo

2007, 18 minutos

Diretora: Débora Diniz

Um homem de 78 anos sem comer há 58 dias, desacordado em uma cidade no interior de Goiás, depois de planejar obstinadamente a própria morte. No bolso, um bilhete em que se apresenta como o solitário anônimo. Sem mais pretextos para viver, o homem sem identidade exige apenas uma coisa: morrer sozinho e no anonimato. A história verídica foi transformada em documentário pela antropóloga e professora do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB) Debora Diniz e ganhou o Prêmio Especial do Júri no 17º Festival de Curtas do Rio de Janeiro e o terceiro lugar no Festival Internacional de Curtas na Tailândia. O vídeo foi produzido pela Imagens Livres.

09/05/2008 | Santa Cecília, São Paulo/SP

Kynemas

2005, 30 minutos

Diretor: Pedro Paulo Rocha

Kynemas é um filme concebido para ser uma obra eletrônica in progress. É um manifesto plástico sonoro sobre as formas nascentes de cinema na atualidade; subway, cinema expandido, cinema eletrônico, cinema plástico, híbrido.

13/06/2008 | Santa Cecília, São Paulo/SP

A Marquesa D´O (Die Marquise von O…)

1976, 102 minutos

Diretor: Eric Rohmer

Eric Rohmer nos propõe um vaivém entre palavras e imagens. Falsamente teatral e falsamente literária, sua obra arranca da linguagem uma certa afasia: o ato de fala como fundador, como fabulador é que funda o silêncio no falado e que faz deste cinema, um cinema mudo. Com “A Marquesa de O” mais uma vez é o corpo feminino que sofre fragmentações. É em nome de um pudor que não existe, que a verdade precisaria então de muitos disfarces, invertendo valores que seriam intoleráveis: é você, marquesa, que está grávida de sua própria consciência. Em um de seus provérbios, Rohmer diria que só escolhe bem aquele que é escolhido. A efetiva escolha, que consiste em escolher a própria escolha, é suposta retornar e dar-nos tudo. É por isso que ela contribui para que ao abandonar da noiva, ele nos seja entregue por inteiro: “Eu a amo de forma sublime, extraordinária. Eu a amo. Não é uma simples inclinação.” Os enquadramentos obcecantes da “Marquesa de O” são mais um dos modos com que Rohmer irá fazer da câmera uma consciência formal ética capaz de nos levar a uma imagem indireta livre do mundo e, ao mesmo tempo, a um ponto comum entre o cinema e a literatura. Mas não seria isto mesmo o que constitui o estatuto singular da imagem audiovisual moderna: uma dissociação do visual e do sonoro, em heutonomia e incomensurabilidade? A imagem visual e sonora estão, enfim, em uma relação muito especial: relação indireta livre que não se propõe o menor todo.

18/07/2008 | Santa Cecília, São Paulo/SP

Um Homem Com Uma Câmera (Chelovek s kino-apparatom)

1929, 80 minutos

Diretor: Dziga Vertov

Com o híbrido homem câmera, Vertov radicaliza seu método de montagem permanente, involuindo na matéria fluida da variação universal. O olho não humano, que estaria nas coisas, conecta qualquer ponto do universo a um outro ponto qualquer, em qualquer ordem temporal, em um “espaço qualquer”. O “caos irisado” introduz a percepção nas coisas, ultrapassa o intervalo entre ação e reação, decompõe a mimese e a impressão de realidade, acessa o plano luminoso da imanência em sua ondulação cósmica. Vertov, com a exploração dos fatos vividos, realiza uma cine-sensação do mundo. “Eu vejo.” “Minha câmera não escreve, mas inscreve.” Torna-se visível o invisível. O Homem com uma Câmera é a pedagogia anti-ilusionista para uma arte construção da vida, princípio ético e estético de uma “verdade a 24 quadros por segundo”, estado gasoso da percepção que segue livremente o percurso das imagens-movimento da substância vivente. (por Alessandro G. Campolina)

01/08/2008 | Santa Cecília, São Paulo/SP

Laranja Mecânica (A Clockwork Orange)

1971, 138 minutos

Diretor: Stanley Kubrick

Um cérebro serve para agir, e o mundo-cérebro é Laranja Mecânica: atitudes corporais com um máximo de violência, gestos cerebrais em processo de captura, forças de morte e ritmos de adestramento. “Dê-me um cérebro”, pede o cinema. Um desfile de autômatos é o que lhe damos. Subjetividades protetizadas, robôs dançantes, monstros e zumbis é o que lhe damos. Com uma crítica ácida e impecável, Kubrick perfura este cérebro-mundo, esta membrana inseparável das forças de morte que enclausuram o fora, a serviço de uma ordem interior demente. (por Alessandro G. Campolina)

12/09/2008 | Santa Cecília, São Paulo/SP

O Ano Passado em Marienbad (L’Année Dernière à Marienbad)

1961, 94 minutos

Diretor: Alain Resnais

O Ano Passado em Marienbad, ou o lugar e o acontecimento de um encontro decisivo… Um cinema tornado registro seletivo, inclusivo, pura repetição da diferença. Uma involução nos estratos mais profundos da memória é o que nos propõe Alain Resnais. Uma descontinuidade de séries que concorrem para um mesmo acontecimento é o que nos apresenta Robbe-Grillet. Séries simultâneas que se dão a cada retorno, várias vezes, para a construção de uma cena, uma decisão. Vou com ele, não vou com ele? É sempre o encontro que decide. A música fúnebre embala uma grande repetição. O esquecimento de marcas e o esquecimento de futuro. Entre o acontecimento e o lugar, um novo limiar. É da superfície do acontecimento que se faz memória no cinema de Resnais e de Robbe-Grillet; é de um horizonte de futuro, que redime o passado, que se faz com que o inabalável retorne, criando a decisão, que é movimento do porvir. O império de um presente atual estará para sempre questionado na imagem cinematográfica: foi no ano passado, de um lugar qualquer, em Marienbad, onde uma vez mais e sempre se perde. Ou será “ao longo destes corredores, através destes salões, estas galerias, nesta construção de um outro século, este hotel imenso, luxuoso, barroco, lúgubre”?. Ou foi “no parque deste hotel, uma espécie de jardim à francesa, sem árvores, sem flores, sem vegetação alguma”? Ou é então, “ao longo das aleias retilíneas, entre as estátuas de gesto fixo e as lajes de granito, onde você estava agora na iminência de se perder, para sempre, na noite tranquila, sozinha comigo”. (por Alessandro G. Campolina)

17/10/2008 | Pinheiros, São Paulo/SP

Calígula

1979, 155 minutos

Diretor: Tinto Brass

Em uma formação social despótica romana, um corpo intenso, uma natureza que salta, um pensamento alegre na destruição. Extraindo humor das práticas de maldade como dispositivo provocador e redisponibilizador das forças de um corpo social decadente, que apodrece e se desmancha lascivamente. Caligula se constrói num meio cujo horizonte constitutivo oscila entre a trapaça covarde da existência impotente e a traição paranoica. Cruel? Louco? O Terror em pessoa? O arbítrio aterrador em estado puro? Uma necessidade implacável de fazer comandar o Imponderável e fazer de si um Destino, se fazer Divino! Em um meio no qual os poderes de rebaixamento da vida triunfam a cada complô!
O erotismo como dispositivo que escancara um diagrama de forças, catalisador de afetos que escapam ou são capturados no tecido de um corpo pleno despótico. O sexo hipostasiado em práticas eróticas que fazem explodir o desejo como linha de fuga, glorificando o gozo nos modos de investir e destruir os lugares de poder. Calígula, déspota e escravo que está em nós? Vemos brotar nesse meio traços e tendências que se repetem em um regime de autoridade e que constituem o cinismo moderno das nossas sociedades. O épico erótico de Tinto Brass reflete a gênese da nova aliança de comando do desejo com a Transcendência nas figurações teatrais e plásticas do fazer do déspota: a filiação direta com Deus transfigura e transporta a relação com um fluxo germinal intenso. Um adestramento dos esfíncteres, uma retenção de fluxos, uma transgressão incestuosa. Eis o modo Calígula Estado paranoico e despótico. (por Luiz Fuganti e Alessandro G. Campolina)

28/11/2008 | Projeção em Pinheiros, São Paulo SP

À Sombra do Vulcão (Under the Volcano)

1984, 109 minutos

Diretor: John Huston

À Sombra do Vulcão, do diretor John Huston, é baseado na obra Under the Volcano, de Malcolm Lowry. A história se passa em 1938, no México. Narra o encontro/desencontro de um casal que se separa devido à traição da bela esposa (Jacqueline Bisset). O marido, um cônsul britânico (Albert Finney) sempre esteve à espera do retorno da mulher amada, mas quando isso se concretiza percebe que não há como reparar a fissura/fenda que se abriu no que parecia sólido como uma rocha. Ele se tornou alcoólatra e ela tenta ardentemente curar a rocha dilacerada.

05/12/2008 | Pinheiros, São Paulo/SP

Stromboli (Stromboli, Terra di Dio)

1949, 102 minutos

Diretor: Roberto Rossellini

Stromboli por uma miséria terrível demais… Stromboli por uma dor intensa demais… Stomboli por uma beleza grande demais… Rosselini cartografa a ilha de Stromboli com o olhar estrangeiro que revela o mais profundo de uma violência para a qual não há mais ação possível. Planos sucessivos fazem um duplo movimento de criação e apagamento. A ilha ou a terra devastada é repetidamente preenchida por naturezas mortas de personagens cristalizados no limite de situações que excedem. O porto, a pesca, a tempestade, a erupção vulcânica… Uma situação-limite: a gravidade da pesca, o abismo da banalidade, a inanição existencial. Stromboli é um mapa de afetos, território e fissura de uma Europa que convulsiona imóvel diante do inominável da guerra. “Estou acabada, tenho medo, que mistério, que beleza, meu Deus” Stromboli é a tensão disruptiva que arrebata o pensamento com a exterioridade impensável do que só pode ser pensado.

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19/01/2007 | Cerqueira Cesar, São Paulo/SP

Era uma vez no Oeste (C’era una Volta il West)

1969, 166 minutos

Diretor: Sérgio Leone

O filme de Sergio Leone reinventa a linguagem do faroeste, subvertendo valores e criando um outro olhar sobre os modos de vida de homens de negócio e homens de guerra ou combate. Com uma extraordinária exploração do primeiro plano, Leone traz à superfície da tela imagens visuais e sonoras carregadas de afetos, que aos poucos vão tecendo linhas intensivas de tempo, cheias de forças de ruptura, como motor da ação. Assim, o tempo intensivo é o grande personagem que subverte, desencadeia e faz derivar a ação. As longas esperas e precipitações abruptas, as velocidades imperceptíveis e os tempos coexistentes, a memória como presença virtual contínua e não como lembrança ou flashback re-apresentado, a poderosa trilha sonora de Moriconne interagindo como expressão desse tempo criador, tudo isso funda um modo insólito de montagem e decoupage, produtores de sensações que redispõem radicalmente nosso desejo e nosso modo de perceber a vida. Uma crítica cheia de humor aos modos sedentários e baixos de viver. (por Luiz Fuganti)

02/02/2007 | Vila Madalena, São Paulo/SP

O Anjo Exterminador (El Ángel Exterminador)

1962, 95 minutos

Diretor: Luis Buñuel

A negação do acaso e a incapacidade de apreender as virtualidades em jogo marcacam o sufocamento de uma sociedade refém das máscaras e das representações. Buñuel registra a desarticulação das palavras de ordem que faz emergir o caos, ao mesmo tempo em que personifica a intolerância em personagens presos a regimes de significação e organização de um misticismo doentio e de um subjetivismo esfacelado. As saídas que evocam uma memória de marcas só poderiam conduzir a uma reterritorialização ainda mais implacável. (por Alessandro G. Campolina)

02/03/2007 | Pacaembu, São Paulo/SP

Alphaville

1965, 100 minutos

Diretor: Jean-Luc Godard

Este genial filme de ficção de Godard coloca diretamente o problema das sociedades de controle e desnuda a natureza essencialmente vampiresca de todo o Estado, seja despótico, totalitário, fascista ou democrático. Todo Estado se constitui pela Morte, mas sob o signo da propaganda sedutora e delirante de uma provisão inesgotável de um Bem Universal, provisão de força, poder e prazer. O protagonista percebe o imperceptível de todo poder, o segredo de todo controle, o inconfessável que se esconde sob todo aquele que se põe a falar em nome da vida e do bem. Godard não narra a aventura apenas de um suposto Estado doente e totalitário. Não há Estado que não se constitua como produtor de doença e como um grande sugadouro das forças vitais do homem. Sua Memória central; sua lógica binária e dicotômica de inclusão e exclusão; sua ciência integradora de focos dispersos de poder e suas técnicas de controle da vida por produção de desejo; sua linguagem higienizante; seus frios e vingativos dispositivos de codificação e de justiça; seus filtros, ordens e hierarquias invertidas, cálculos e determinação de um campo prescrito de possibilidades; suas cadeias de transmissão de sentenças de morte; suas rações e provimentos diários de dispersão, confusão e esgotamento; tudo isso faz a atualidade desse filme de 1965. Nossas sociedades continuam mais do que nunca atravessadas por micro-fascismos intrínsecos a toda Forma, seja por modelagem ou por modulação de fluxos e dos tempos vitais e necessários aos movimentos livres e auto-sustentáveis. (por Luiz Fuganti)

06/04/2007 | Aclimação, São Paulo/SP

Oito e meio (8 ½)

1963, 145 minutos

Diretor: Federico Fellini

Essa obra prima de Fellini põe em questão as condições de criação da obra de arte em geral e do cinema em especial. É uma busca crítica pelo modo de exprimir o essencial da vida na obra de arte que a reinventa, destruindo o supérfluo. Um diretor em crise se aventura pelo mundo caótico de suas paixões e dos tempos vividos que o atravessam, os quais se misturam com as demandas não menos caóticas, as vezes frágeis, outras oportunistas, de pretendentes a um papel no filme e mesmo na vida: imagens e signos de desejos submetidos a vontade de reconhecimento dos personagens que também o assediam mendigando atenção para se sentirem partes da existência. As instituições da igreja, da família, do dinheiro e do poder também são invocadas como clientes obscuros cometendo ingerências no resultado da obra e se insinuando perversa e cinicamente no ato de criar. Enfim, uma obra que procura reencontrar a fonte e a força inspiradora da criação nos acontecimentos que fazem a vida brilhar e retomar sua inocência e sua capacidade de amar e jogar afirmativamente o jogo da reinvenção dos modos de viver. (escrito por Luiz Fuganti)

04/05/2007 | Pacaembu, São Paulo/SP

Os Pássaros (The Birds)

1963, 114 minutos

Diretor: Alfred Hitchcock

Os Pássaros de Hitchcock narra a desconstrução dos modos “humanos” de viver, a partir da animalidade intensa dos devires que nos povoam. As alianças disruptivas do desejo, a fuga audaciosa dos aparelhos de captura, a natureza antinatural dos afetos animais e as forças vertiginosas do fora que criam uma tessitura de relações casuais e necessárias às “núpcias de um outramento”. A domesticação dos relacionamentos e a conjugalidade familiarista é progressivamente abalada a cada novo ataque dos pássaros. Ao mesmo tempo, emergem as condições reais para os encontros que efetuam, em meio à selvageria caótica, as possibilidades de um grande amor. (por Alessandro G. Campolina)

Curiosidades:
– O diretor Alfred Hitchcock tentou convencer o roteirista Joseph Stefano, com quem trabalhara em Psicose, a escrever o roteiro de Os Pássaros, mas ele não se interessou pela história.
– A atriz Tippi Hendren chegou a sofrer um corte no rosto por um dos pássaros, durante as filmagens de uma cena do filme.
– Os Pássaros não possui trilha sonora. Por causa disto, o compositor Bernard Herrman, colaborador de Hitchcock em grande parte de seus filmes, aparece nos créditos apenas como “consultor de som”.
– O pôster original de Os Pássaros causou uma grande controvérsia na Inglaterra, por causa do slogan “The Birds is Coming”, que gerou protestos por parte dos professores britânicos.
– No final de Os Pássaros não aparece o tradicional “The End”, por opção do próprio Alfred Hitchcock. A intenção do diretor era passar ao público a impressão de que havia um terror sem fim no filme.

01/06/2007 | Vila São Franscisco, Osasco/SP

Os Idiotas (Idioterne)

1998, 117 minutos

Diretor: Lars Von Trier

Filme-paradoxo, Lars von Trier coloca em cena os modos loucos de fazer cinema, arrebentando, de saída, com a castidade idiota do Dogma 95 e zombando de todos aqueles que acreditaram no seu pseudo-dogmatismo. Com uma câmera amadora e vertiginosa, as suas antilocações são percorridas na construção descontínua de personagens aberrantes. Com uma crítica aguda, os valores burgueses são desnudados até a exibição pornográfica das intolerâncias micro-fascistas. Reinventando seu estilo a cada obra, Lars von Trier narra com “Os Idiotas” a experimentação crítico-criativa de um grupo de amigos que simulam a doença mental como atitude política, questionadora das instituições e da moralidade. Em meio à multiplicação intempestiva da idiotia é impossível não se questionar. Quem está zombando de quem? E os verdadeiros loucos? Será que existem “verdadeiros loucos”? Olhar brilhante que problematiza a simulação de identidades, enquanto condição necessária, e a fragilidade do estatuto moral do normal e do patológico. (escrito por Alessandro G. Campolina)

13/07/2007 | Butantã, São Paulo/SP

Bom Dia (Ohayo)

1959, 93 minutos

Diretor: Yasujiro Ozu

Corredores e aposentos vazios, varais, postes, fachadas de casas, planos gerais de paisagem, entre-casas e entre-planos. “Bom Dia” afirma a incomensurável beleza dos momentos breves e banais que, plenos de novidades, são capazes de sentido e de vida. Uma fina análise da reconstrução japonesa do pós-guerra, com grande amor pelos paradoxos. Ozu vai nos mostrando que se a televisão catalisa o fim da família tradicional japonesa, se impera a desconfiança entre os vizinhos, se há indícios de convulsão social (a aposentadoria, o desemprego, o trabalho informal), se os homens não conseguem mais dizer o que importa, escondendo-se em frases feitas, é justamente o diálogo repetitivo e cotidiano sobre o tempo, que permite ao professor se aproximar da tia de seus alunos, por quem é apaixonado. Pervertendo as tradições e os costumes, é a ingenuidade pueril de uma greve de silêncio que expõe as redundâncias linguísticas e desarticula a ordinariedade empoderadora dos não-ditos que sustentam uma ruidosa convivência social e inter-geracional. O rigor da depuração do plano cinematográfico, o ritmo encadeante dos planos e sequências descontínuos, os fatos narrativos levados ao extremo da simplicidade e do anti-dramatismo, a minuciosa composição do quadro, tudo isso geralmente provoca sensações mais do que argumentos. Uma narrativa que é pura ficção, um realismo que é do tempo. (por Alessandro G. Campolina)

03/08/2007 | Pinheiros, São Paulo/SP

Apoteose da Vontade (Triumph des Willens) & Noite e Neblina (Nuit et Brouillard)

1955, 32 minutos

Diretor(a): Leni Riefenstahl & Alain Resnais

Foram exibidos dois filmes: Noite e Neblina do diretor Alain Resnais e Triunfo da Vontade da diretora Leni Riefenstahl*, como parte de um ciclo de três eventos acerca do nazismo. Na primeira sexta-feira de setembro será a vez de ‘O Ovo da Serpente’, de Igmar Bergman, e na seqüência, em outubro, ‘Europa’, de Lars Von Trier. Essa série propõe multiplicar as perspectivas e refinar as análises que atravessam um tema tão batido quanto mal compreendido como o Nazismo, ofuscado pela manipulação das visões dicotômicas, pelos usos maniqueístas que fazem da política da vingança uma condição institucional e um grande negócio. O contágio pestilento dos modos de impotência humanos em relações micro-fascistas que fazem cada corpo servir de combustível para uma política do ódio, que se alimenta da morte e das paixões tristes, não é privilégio de um povo, de uma nação ou um mero acidente na história do homem. Ele brota em terreno comum onde são cultivados carrascos e vítimas; seus pressupostos e desdobramentos seguem atravessando nossos corpos e mentes, nutrindo muitas camadas e zonas desconhecidas do humano que seguem imperceptivelmente proliferando através do grande corpo canceroso das nossas formações sociais. (por Luiz Fuganti)

14/09/2007 | Cerqueira César, São Paulo/SP

O Ovo da Serpente (Das Schlangenei)

1977, 120 minutos

Diretor: Ingmar Bergman

O filme O Ovo da Serpente do diretor Ingmar Bergman faz parte de um ciclo de três eventos acerca do nazismo.
Foram exibidos no mês de agosto os filmes Noite e Neblina do diretor Alain Resnais e Triunfo da Vontade da diretora Leni Riefenstahl como a primeira parte do ciclo. Na seqüência, em outubro, apresentaremos o filme Europa, de Lars Von Trier.
Essa série propõe multiplicar as perspectivas e refinar as análises que atravessam um tema tão batido quanto mal compreendido como o Nazismo, ofuscado pela manipulação das visões dicotômicas, pelos usos maniqueístas que fazem da política da vingança uma condição institucional e um grande negócio. O contágio pestilento dos modos de impotência humanos em relações micro-fascistas que fazem cada corpo servir de combustível para uma política do ódio, que se alimenta da morte e das paixões tristes, não é privilégio de um povo, de uma nação ou um mero acidente na história do homem. Ele brota em terreno comum onde são cultivados carrascos e vítimas; seus pressupostos e desdobramentos seguem atravessando nossos corpos e mentes, nutrindo muitas camadas e zonas desconhecidas do humano que seguem imperceptivelmente proliferando através do grande corpo canceroso das nossas formações sociais. (por Luiz Fuganti)

05/10/2007 | Jardim Bonfilioli, São Paulo/SP

Europa

1991, 112 minutos

Diretor: Lars Von Trier

Essa série propõe multiplicar as perspectivas e refinar as análises que atravessam um tema tão batido quanto mal compreendido como o Nazismo, ofuscado pela manipulação das visões dicotômicas, pelos usos maniqueístas que fazem da política da vingança uma condição institucional e um grande negócio. O contágio pestilento dos modos de impotência humanos em relações micro-fascistas que fazem cada corpo servir de combustível para uma política do ódio, que se alimenta da morte e das paixões tristes, não é privilégio de um povo, de uma nação ou um mero acidente na história do homem. Ele brota em terreno comum onde são cultivados carrascos e vítimas; seus pressupostos e desdobramentos seguem atravessando nossos corpos e mentes, nutrindo muitas camadas e zonas desconhecidas do humano que seguem imperceptivelmente proliferando através do grande corpo canceroso das nossas formações sociais. (Luiz Fuganti)

09/11/2007 | Espaço Unibanco – São Paulo/SP

Santiago

2006, 80 minutos

Diretor: João Moreira Salles

Evento realizado em parceria com o diretor João Moreira Salles e antigo Espaço Unibanco de Cinema Personagem labiríntico, mordomo da família Moreira Salles, o que subverte as condições do discurso documental. Passagem e ocasião de desencontros, Santiago exercita a fabulação, teatraliza seus gestos, desarticula as palavras de ordem, desenquadra o seu próprio autor. O que antes seria um filme pessoal e de montagem, se torna o palco de um grande combate. O filme que não foi feito. O Anti-metacinema. A arte-clínica pela culatra. O passado e o porvir de um cineasta em crise, o duplo de si mesmo rachado, desconstruído, arrastado no tempo próprio de uma ficção tornada vida. As mnemotécnicas de uma personagem fabulosa fazendo do exótico o apenas pouco, da reflexividade, só o reforço do mando. Na expressão de Santiago: “o tempo não tem consideração”. Tempo trágico que “pelos caminhos contínuos entre as estátuas imutáveis e placas de granito no qual você estava, até mesmo agora, perdendo-se para sempre, no silêncio da noite, sozinha comigo”. (escrito por Alessandro G. Campolina)

14/12/2007 | Pompéia, São Paulo/SP

Terra em Transe

1967, 106 minutos

Diretor: Glauber Rocha

Para que não nos matem a verdade, é melhor morrer de poesia. O poeta-guerreiro Paulo Martins percorre o entre-imagens do universo convulsivo de Eldorado, o continente tropical de Terra em Transe. Embriagado do populismo demagógico e do autoritarismo profético, o personagem central ressoa com o ritmo delirante das imagens inquietas de Glauber Rocha, descentrando os avatares do cinema e re-encontrando as condições do dizível e do cantável. Vigorosa e visionária alegoria política sobre o Brasil e a América Latina. Polifonia barroca de diversas culturas. Um filme sem concessões, caótico, polêmico, feito sem a intenção de agradar a quem quer que seja. Para o cineasta Joaquim Pedro de Andrade, “o poeta é o guerrilheiro, pois o povo de Eldorado não assume posição crítica diante de seus problemas e os grandes heróis se fazem com a morte. A morte como fé e não como solução. Assim, a morte do poeta é morte-vida, e não é possível viver quando não se está disposto a morrer por uma ideia, por um amor, por um povo, por um amigo” Terra em transe é a golfada hedionda contra uma gente vigilâmbula, o salto, o grito e o canto para uma terra e para um povo, um povo que falta. (por Alessandro G. Campolina)

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03/02/2006 | Pinheiros, São Paulo/SP

O Céu Que Nos Protege (The Sheltering Sky)

1990, 138 minutos

Diretor: Bernardo Bertolucci

A escolha do filme de Bertolucci se deve a uma visão privilegiada que provém do domínio dos devires sobre os mecanismos de disciplina e controle, exprimindo uma intensa desterritorialização dos modos de vida ocidentais e dos modos sedentários de sensibilidade e pensamento. Desejos à deriva, sofrendo cortantes transformações incorporais, movendo horizontes no tempo e desenhando linhas de fuga sob forças inauditas. Atravessados por acontecimentos implacáveis pela sua necessidade e devastados por sua precipitação inesperada, esses corpos à deriva mergulham irreversivelmente no próprio deserto. (Luiz Fuganti)

10/03/2006 | Pinheiros, São Paulo/SP

O Passageiro: Profissão Reporter (Profissione: Reporter)

1975, 122 minutos

Diretor: Michelangelo Antonioni

O filme de Antonioni nos apresenta o problema da Identidade e suas implicações, e o combate de um indivíduo para romper o círculo vicioso que ela impõe ao seu modo de vida. Depois de um percurso tortuoso e fatigante, o repórter Locke se depara com uma oportunidade surpreendente para mudar radicalmente seu destino. Desde então desenrolam-se aventuras que colocam-lhe novos desafios de liberdade, ao mesmo tempo em que seu passado subsiste e insiste em retornar. (por Luiz Fuganti)

Curiosidade: Um dos planos-sequência mais belos e longos já realizados no cinema.

07/04/2006 | Pacaembu, São Paulo/SP

Meu Tio da América (Mon Oncle d’Amérique)

1980, 125 minutos

Diretor: Alain Resnais

No entrecruzamento da etologia, das ciências da vida e do cérebro e das determinações sócio-culturais dos modos humanos de viver, Resnais opera uma desconstrução singular dos mecanismos cerebrais de conservação, memoria e imaginação. Esta desconstrução se exprime na montagem do filme e se concretiza no embaralhamento das séries ou histórias, que se imbricam em interfaces múltiplas de espaço-tempo, fazendo com que o tempo cronológico e sucessivo perca o seu caráter dominante e ponha em ação, através do uso da linguagem e do modo sócio-culturais de produzir signos, as dimensões temporais que coexistem e concorrem para as instâncias decisórias de um indivíduo, grupo ou sociedade. (por Luiz Fuganti)

05/05/2006 | Pinheiros – São Paulo/SP

Teorema (Theorem)

1968, 105 minutos

Diretor: Pier Paolo Pasolini

Em Milão a vida de uma rica família burguesa é totalmente modificada por um misterioso visitante (Terence Stamp), que seduz a empregada, o filho, a mãe, a filha e finalmente o pai. Além disto tem um contato intelectual com todos eles, convencendo-os da futilidade da existência, e após cumprir seu objetivo parte em poucos dias. Após sua ida ninguém da família consegue continuar vivendo da mesma forma, sendo que cada um deles toma um caminho diferente: a mãe se entrega ao primeiro que surge, a empregada passa a levitar, o filho pinta quadros e os suja com fezes, a filha se torna uma catatônica e o pai, um rico empresário, abandona sua fábrica, se desnuda em plena estação ferroviária de Milão e desaparece no deserto.

02/06/2006 | Pinheiros – São Paulo/SP

Amor a Flor da Pele (In the Mood for Love)

2000, 98 minutos

Diretor: Wong Kar-Wai

Um ritmo de imagem, um ritmo de música. Contiguidades e ressonâncias de um cinema que cria a atmosfera de sugestão para os encontros afetivos. A suspensão das ações e paixões, com a ocultação das faces e dos corpos, estabelece as condições para encontrar o ato. O espírito do amor flui pelas entrelinhas e pelo interstício dos enquadramentos em slow motion. Wong Kar-Wai cria uma linguagem rítmica que acessa o ato de pensamento, ativando o expectador em uma espionagem do relacional. (por Alessandro Campolina)

07/07/2006 | Aclimação, São Paulo/SP

Lavoura Arcaica (To the Left of the Father)

2001, 163 minutos

Diretor: Luis Fernando Carvalho

Mistura de cacos de vários lugares. Um tecido de diferenças e contrastes humanos. A mistura de tudo e depois é botar a lente, o olho de um narrador reflexivo. O cinema refletindo os acontecimentos tece um personagem. O acontecimento é do trágico, do irrecuperável, já é passado, é marca. A Lavoura é a cartografia da alma que sofre de uma dor do tempo. (por Alessandro G. Campolina)

04/08/2006 | Pinheiros, São Paulo/SP

O Processo (Le Procès)

1962, 118 minutos

Diretor: Orson Welles

O filme, assim como a obra de Kafka, trata dos processos modernos de subjetivação do desejo e suas desmontagens em devires moleculares, numa viagem profunda ao coração da máquina jurídica moderna. No confronto entre um desejo sem culpa e um regime de signos produtor de assujeitamento, desdobram-se jogos de fuga e captura, nos modos de desejo que desmascaram a natureza passional e a real função da lei, constituintes do sistema do julgamento de nossa época. (escrito por Luiz Fuganti)

01/09/2006 | Cerqueira Cesar, São Paulo/SP

Paris Texas

1984, 147 minutos

Diretor: Wim Wenders

O filme aborda um movimento intenso de desterritorialização do desejo. Através de uma atmosfera desértica e esvaziada pelo esquecimento e perda do nome próprio, desenha um movimento tortuoso de afundamento do sujeito e esfacelamento da identidade, passionalmente produzidos. Ao traçar assim um labirinto no tempo, entrecortado por blocos de memória, ausências e suspensões, o filme vai desdobrando uma teia afetiva com suas rupturas e nós amorosos. Com uma trilha sonora penetrante, Wim Wenders coloca singularmente o problema do modo mais sutil de captura do desejo, aquele produzido pelo amor que se enreda na conjugalidade, seus becos sem saídas e buracos negros, seu modo de produzir memória e projeto e inviabilizar ou reencontrar o devir. (por Alessandro G. Campolina)

06/10/2006 | Pacaembu, São Paulo/SP

O Enigma de Kaspar Hauser (Jeder für Sich und Gott Gegen Alle )

1974, 110 minutos

Diretor: Werner Herzog

“Cada um por si e Deus contra todos”, devastar os costumes e as tradições com um paisagismo anômalo. Enfim um pouco de natureza ventila pelos centros de poder de uma sociedade sedentarizada nos valores e verdades de uma época. O Kasper Hauser de Herzog dramatiza a mais alta potência do anômalo, articulando imagens de lugares distantes, movimento involutivo na natureza intensa que nos possui, sem impor cenários, mas abalando Deuses e nos arrastando nos mais profundos limiares do humano e do inumano. (por Alessandro G. Campolina)

10/11/2006 | Higienópolis, São Paulo/SP

Solaris (Solyaris)

1972, 165 minutos

Diretor: Andrei Tarkovski

Solaris é um filme de ficção científica, que aborda com extrema profundidade o problema do tempo e de suas produções intensivas; da memória e do espírito e de suas qualidades de registro como condição da boa e da má repetição de si ou continuação da vida; das arapucas do retorno do mesmo nos modos de vida pautados na negação e no julgamento do vivido. Coloca o problema do sentido da existência, do amor, da natureza do pensamento, desconstruindo as formas reflexivas e recognitivas do conhecimento especulativo e científico e da razão prática ou moral humanos. Forja um ultrapassamento da consciência reduzida a estados atuais de espelhamento do presente, para mergulhar no inconsciente do pensamento e da matéria virtual, imanentes à natureza. Questiona o ideal do Outro e do Mesmo, a busca cega do sentido ou finalidade do fazer contato com outras formas de vida e de pensamentos cósmicos. Situa a humanidade na sua impotência de criar e repetir uma memória ontológica que modifique e ultrapasse a si mesma. Estabelece a coexistência e a cumplicidade entre modos de viver e pensar que inviabilizam vidas ativas e alegres, em contraste com modos de amar que criam pontes e continuidades intensivas. Quais maneiras de viver podem levar o homem a produzir devires ativos e modos afirmativos de desejar? O filme provoca um deslocamento radical no pensamento da memória que a vida cria e da cultura como seleção de valores que podem levar à morte do homem por indignidade, covardia diante da dor: vergonha de ser homem. Questiona a desqualificação da dor, o estatuto do mal, a cultura da morte. (por Luiz Fuganti)

01/12/2006 | Pacaembu, São Paulo SP

O Criado (The Servant)

1963, 112 minutos

Diretor: Joseph Losey

O Criado é um filme que expõe os movimentos complexos de um tecido afetivo próprio às relações de poder e seus diversos tempos desdobrados que as constituem. Todo poder age por atos implícitos micropolíticos de desqualificação e separação, para operar ao mesmo tempo no nível macropolítico através da sedução, produção de ligações de empoderamento (dependência velada) e compensação pelo reconhecimento gerador de consciência. Todo poder se exerce com a máscara do servidor que pressupõe a cumplicidade do servente e do servido. Losey desdobra magistralmente os movimentos (velocidades) e investimentos (direções intensivas) do desejo implicados numa relação entre senhor e servidor. Mostra como ninguém os mecanismos inconscientes de inversão das relações de comando e de palavra de ordem; relações não ditas, inconfessáveis, que são tecidas imperceptivelmente numa atmosfera de representação das relações de classe, posições, papéis competentes e funções sociais, sob o signo da vontade de dominação. Em tais relações de desejo, inclusive conjugais, homo ou heteroeróticas, o que quer realmente o desejo senão o controle e o comando? Mas se assim é, quem realmente comanda o desejo sob a máscara do livre arbítrio? Quem em nós e fora de nós? Quem e o que realmente são comandados sob a máscara ou o rosto da obediência? Sobre quais misérias afetivas o poder se apoia e quais paixões tristes ele estimula e investe? E como essas desqualificações e impotências são produzidas transversalmente em todas as camadas sociais e se multiplicam por contágio, sob as relações aparentemente contraditórias e dicotômicas da luta das classes sociais? A quem serve o servente, a quem serve o senhor servido? De que estofos são feitos nossos desejos, crenças, sentidos e valores? De que natureza é a alegria que nos preenche e que move nosso desejo se desdobrando no amor que nos seduz e captura? (por Luiz Fuganti)